Tuesday, December 12, 2006

A Caixa Encarnada - Capitulo II

Passei todo o dia, a percorrer joalharias, não encontrava as que achava serem as nossas, aquelas que simbolizavam tudo o que sentia por ti. Consegui encontrar as tulipas pretas que tanto gostas, pedi à florista que fizesse o ramo o mais simples possível. Quando entrei em casa, não cabia em mim de contente, sempre pensei que te estaria a fazer a surpresa da tua vida. Quando te estendi a caixa encarnada, e fiz a pergunta mais difícil de toda a minha vida, aquela que me dava mais satisfação, nunca pensei que a tua resposta fosse a aquela. Não aguentei, virei-me e trinquei a mão para que não ouvisses o grito que me transbordava a alma.

Sempre soube que o casamento não fazia parte dos teus planos, mas pensei que, ao fim de quatro anos e meio a viveres comigo, quisesses. Afinal a única diferença era o papel. E eu gostava tanto de te ter como minha mulher… Doeu-me tanto que decidi sair de casa, deixar-te a ti que eras a pessoa mais importante da minha vida, com quem pensei partilhar todos os meus sonhos e medos. Pior do que o não, foi a indignação que demonstraste, como se te estivesse a ofender, como se fosse a coisa mais estúpida do mundo, eu querer casar-me contigo. Pisaste os meus sentimentos, não consegui olhar mais para ti, era demasiado doloroso.

Quando sai de casa pensei nunca mais encontrar um rumo na minha vida. No entanto não foi isso que se passou, encontrei uma pessoa espantosa, alguém que me ajudou a tratar a ferida que me abriste no peito. Alguém que me ouviu quando mais precisava, mais necessitava de um ombro amigo, ainda sonhava contigo todas as noites e todos os dias. A pouco e pouco foste tornando mais distante deixaste de fazer parte do meu quotidiano. E ela começou a preencher-me os dias, os pensamentos, a minha vida.

Fomos viver juntos. Até que um dia ela perguntou-me logo de manhã, acabadinhos de acordar: E se casássemos? De um modo simples, sem grandes confusões, nem preparações. E eu respondi-lhe que sim, nem pensei, foi bastante natural. Estou feliz com a minha decisão, incrivelmente foste tu a primeira pessoa a quem tive necessidade de dizer.

Telefonei-te. Pareceste surpreendida quando ouviste a minha voz. Não falávamos há três meses, achei que não era noticia que se desse pelo telefone. Fomos tomar café, cheguei mais cedo, quando te vi aparecer ao longe a tua figura pareceu-me desconhecida, foi como se tivesse esquecido os teus contornos, o jeito do teu cabelo, a tua maneira de andar, até a tua voz. Iniciámos a conversa com as coisas banais, a família de cada um, os amigos que deixaram de ser comuns… até que me perguntaste: Que notícia é essa tão importante que não me podias dizer por telefone? Respondi-te, entre dentes, vou casar! Nunca paraste de me surpreender, começaste a rir como se não existisse amanhã, mais uma vez brincaste com algo que para mim era importante. Magoaste-me outra vez, quase tanto como da primeira. Mas continuavas a ser uma pessoa importante na minha vida, uma pedra fundamental no meu ser, por isso perguntei se querias ser a minha madrinha de casamento, balbuciaste umas palavras que imaginei quais fossem, disseste-me que não, era um absurdo, levantaste-te e foste embora.

Decidi naquela hora continuar a minha vida, sem me lembrar mais de ti. Mas desde aquele dia que voltaste ao meu imaginário. Foi uma asneira aquele telefonema, como sempre decidi seguir o meu coração e nem pensei.

Agora trago-te comigo no peito e não sei como te expulsar.

Monday, December 11, 2006

A caixa encarnada - Capitulo I

Eis o inicio de uma história, não sei se tenho muito jeito para capitulos e histórias longas, mas vou experimentar, vocês serão as minhas cobaias, digam de vossa justiça.

O inicio do texto não é meu, é de um site que nos desafia a fazer este tipo de coisas (http://livrodosbonsprincipios.wordpress.com/).



Foto: MT


O que prometeste naquela noite é que regressarias mais tarde, “daqui a pouco”, com uma surpresa boa. Não disseste que me trarias uma caixinha encarnada, embrulhada em cetim preto, com um anel de preço comprometedor a fitar-me e a brilhar mais do que eu. Não me disseste que esperavas que a abrisse com entusiasmo ou que respondesse à tua pergunta (aquela que nunca quis ouvir!!! e que vai bem com a nossa música preferida) com o mesmo encanto eufórico com que a pronunciaste. Não me disseste nunca que esperavas mudar a minha forma de encarar a vida e a morte do amor, nem nunca esperaste fazê-lo entre lençóis, porque aí apenas inventamos que estamos vivos… Fiquei tão indignada contigo! Ou foi raiva? Ou decepção?

Balbuciaste umas palavras de incompreensão que nenhum de nós quis ouvir, que fingi não ouvir, voltaste as costas e eu soube que estavas a tapar o choro ou o grito com a palma da mão. Sei que te esmaguei, mas os teus sentimentos eram demasiado tenros, como fruta que pisamos no chão, mesmo sem querer ou quando queremos mordê-la mas se desfaz nas nossas mãos.

Agora sei que vais casar. Por isso decidiste encontrar-te mais uma vez comigo… Para me dizeres isso. Talvez humilhar-me. Não me conheces. Mas porque é que esta conversa tinha que acabar sem roupa, como as outras antes desta? Casa-te. Quem fica com as tuas alianças sou eu.

Fico-te com as alianças e com o coração. Não me conheces, tal como não me conhecias na altura, como é que te pode passar pela ideia que nos pudéssemos casar? Como pensaste que eu me iria casar? Esse tipo de pensamento da tua parte trespassou-me como se as tuas palavras fossem espadas. Não se está cinco anos com alguém sem o/a conhecer, devias saber melhor que isto, ou achavas que, quanto dizia que era contra o casamento, estava a falar dos outros ou a fazer um género? O casamento não se enquadra como o meu modo de vida, com o que quero para mim, tu acima de todas as pessoas devias saber isso. Eu sabia que no teu intimo era tua vontade casar, mas sempre pensei que abdicavas desse desejo por saberes que eu não fazia a melhor intenção de o fazer. Naquele momento morreste para mim, como morrem todos aqueles que me magoam.

Esta tua obsessão, quase doentia com o casamento, preocupa-me. Passaram três meses desde que nos separámos, três meses bastaram-te para te atirares para um casamento. Não percebo o que se passa nessa tua cabeça.

Quando recebi o teu telefonema, demorei a perceber o que pretendias. Disseste que querias contar-me uma coisa que para sempre iria mudar a tua vida. Pensei que fosse algo profissional. Por isso concordei em encontrar-me contigo. Quando mo disseste comecei a rir, pensei que estivesses a gozar, perguntei-te até a brincar se se tratava de alguma imigrante que precisava de visto, lembras-te?

Não acredito que seja tão fácil esquecer alguém com quem se viveu durante quatro anos e meio, em três meses, muito menos acredito alguém no seu perfeito juízo case com alguém com quem tem uma relação de menos de três meses…não o consigo compreender. Talvez seja possível, é certamente possível no teu caso, porque o vais fazer. Parece-me abuso que me convides para tua madrinha de casamento, não é normal. Recusei…não vou fazer parte da tua loucura. Além disso dói teres-me esquecido, em tão pouco tempo. Fere-me no mais íntimo do meu ser. Queres saber se ainda gosto de ti? É óbvio que sim, não se esquece uma história como a nossa em tão pouco tempo.

Tuesday, December 05, 2006

Uma prenda de Natal antecipada para a minha irmã e para as minhas amigas. O importante era mesmo a música por isso...


"Só o teu riso dura. Mostrei-te o mar.Mostrei-to antes e depois de morreres"
Luis Filipe Castro Mendes

Monday, December 04, 2006

Retrato de Adolescente

Estou sentada no chão do meu quarto, espremida no pequeno espaço que dista entre a mesa-de-cabeceira e o armário. Choro. Choro muito. No rádio passa a cassete, mais usada de todos os domingos, Enigma. Este cenário repete-se todas as semanas. O quarto não tem luz, o estore está corrido até baixo. O Domingo é o único dia em que tenho tempo para chorar, para deitar tudo o que tenho cá dentro. Este reboliço de sentimentos e revoltas que trago comigo. É como se carregasse dentro de mim duas personalidades, a que tem de fazer tudo o que deve ser feito e a outra a mais escura que quer gritar bem alto todas as atrocidades que me atropelam durante a semana. Esta tarde é o único tempo que tenho para mim, para me libertar. Apetece-me gritar, mas não posso. Até o choro, que não consigo reprimir, tem de ser mudo, para não alarmar os meus pais que estão em casa. Eles não compreendem, fazem tudo o que é humanamente possível fazer por um filho, não quero preocupá-los, não quero que se sintam impotentes e se culpabilizem, a culpa não é deles. A culpa é minha. Como é que as coisas chegaram a este ponto não sei, não consigo perceber, faço tudo para agradar a tudo e a todos. Inventei um jogo, o objectivo é não pensar. Penso então que não posso pensar em nada, uma parte do meu cérebro fica bloqueada mas existe outra por detrás que começa a pensar que não pode pensar em nada, e assim passo horas neste exercício de concentração, que me permite dividir o meu pensamento em nove patamares, não consigo mais.
Amanhã é segunda, detesto as segundas-feiras. Detesto ter que voltar a ver todas aquelas pessoas que estão na escola. Mas tenho que ir e com um sorriso nos lábios. Não deixo perceber que me provocam, raiva, angústia, mau estar, que me fazem sentir como se tivesse perdido a minha dignidade, o meu carácter, a minha opinião, a minha vontade. Não sei se me humilham por prazer. Refugio-me no meu próprio mundo, um mundo em que sou tudo o que sempre quis ser. No meio desta dor tortuosa aparento ser feliz, habituei-me a fingir toda essa felicidade, para que não entrar num abismo ainda mais profundo. A minha alma negra e transtornada não permite passar essa fronteira. As tentativas de suicídio, fui sempre demasiado cobarde para infligir dor em mim própria, apesar de várias vezes as ter iniciado, deixaram de atordoar o meu pensamento. As fugas da realidade, sempre infrutíferas, já não se transformam em fugas reais, são demasiado penosas para a minha mãe. Mas a realidade é que continuo a querer fugir, não sei para onde, penso que para o mundo dos sonhos, talvez. Quero sair desta cidade, ir para o mundo onde outrora me sentia compreendida, quero estar no meio dos animais, porque sinto que estes são os únicos que me conhecem, que me percebem, que me entendem, quero voltar para o Alentejo.
Escrevo muito, tenho vários blocos de apontamentos, leio muito, no pouco tempo que me resta da minha actividade escolar e desportiva. São a única brecha, para o mundo dos sonhos, que me é permitida. Ouço música, muita música, o prazer último da minha existência, ouço sempre música, nas aulas, na rua, sempre…até mesmo quando não existe nenhum rádio presente. As canções transformam-se em escapes da realidade, transportam-me para um mundo que não pode ser meu, mas que no entanto me faz sentir verdadeiramente à vontade. Queen, Luís Represas e Beatles são os meus guias. De tal forma que por altura da morte de Freddy Mercury passei todo o dia a chorar, escrevi-lhe um poema durante a primeira aula da manhã e desenhei um retrato a carvão que coloquei na porta do armário do meu quarto, foi como se um amigo tivesse morrido, na minha realidade foi.
A minha mãe está a chamar-me para ir jantar, terminou o meu momento, volto a ter uma cara contente, alegre e pronta para enfrentar a vida. Amanhã é segunda-feira, tenho tanto medo…

Sunday, December 03, 2006

Balada do 5º ano Juridico



Balada do 5º ano Juridico pelo Grupo de Fados da UM

Se existe música que me emociona é esta...não existe outra que me atravesse de forma tão tempestuosa, desde o sotão até à cave.
Palavras para quê? Ouçam a letra...e quem sente a Tradição não precisa que se diga mais nada.
Guardem a caixinha das emoções porque ela vai entrar em ebulição.

Boa Noite

Monday, November 27, 2006

A mente

Reprodução de um quadro de Zé Penicheiro (quem não conhece que descubra a obra que é realmente fantástica)


Realmente a nossa mente, é um bichinho bem confuso e cheio de labirintos. Mas por vezes basta uma boa conversa para tudo ficar resolvido dentro de nós. E compreendemos que por vezes ela gosta de nos provocar sentimentos que colmatem falhas antigas, sendo que estes podem ser meramente ilusórios e basta-nos um raciocinio rápido para nos apercebermos das armadilhas que nos pregou.

A minha mente quis brincar comigo e baralhou todo um sistema existencial previamente definido. Mas basta encontrarmos o "ficheiro" danificado para repor todo o sistema novamente.

Estou de volta, cheia de força e com vontade para dar umas valentes gargalhadas.

Obrigada a todos os meus amigos, que nesta altura confusa que passei, me demonstraram porque os posso chamar de verdadeiros amigos.
Depois de toda a tempestade chega a bonança e a minha já chegou. Aprendeu-se mais alguma coisinha no caminho, que afinal de contas é para isso que cá andamos...

A única coisa que me preocupa neste momento é o sono e a fome que tenho, provocada por este "bug" porque fui atacada. Vou tratar disso.


Beijinhos



Mulholland Drive

Foto: MT

Estive hoje a assistir a esta pérola do David Linch, confesso que foi a primeira vez que o vi todo, embora tivesse o DVD em casa há alguns anos. Vi-o no momento certo, confesso. Fez-me lembrar a minha vida tal como se encontra. Pena que também eu abri a caixinha azul, preferia ter ficado no mundo da ilusão. Mas agora já o fiz...está feito, melhores dias virão.
Tal como o Vasco (41m) começei a ver as letras das músicas de outra forma, deixo-vos aqui um trecho de um poema dos The Gift "Fácil de Entender", agora faz todo o sentido.


"Talvez por não saber falar de cor, imaginei
Talvez por saber o que não será melhor, aproximei(...)
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender.
Talvez por não saber falar de cor, imaginei. (...)
Obrigado por saberes cuidar de mim, tratar de mim, olhar para mim...
Escutar quem sou e se ao menos tudo fosse igual a ti...
(...)não sei o que é sentir
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender."

Saturday, November 25, 2006

Ausência

Foto: MT

A alma sente-se como uma praia abandonada em pleno Inverno. Precisa de chá e torradas para encontrar o rumo certo. É aquele tempo, em que o sol teima em não espreitar para nos alegrar nem que seja por um instantinho. Optei por arrumar os sentimentos no sotão, não chateiam, não atrapalham e doem mais longe.
As lágrimas já fizeram companhia à chuva que cai lá fora, o grito já se confundiu com o grito das gaivotas, o corpo já se misturou com a areia molhada de forma a exorcizar os males que o espirito teimoso não quer afastar.
Queria fazer uma viagem....bem longa por sinal, para me esquecer de tudo...para me esquecer de mim.
Se perguntarem por mim digam....digam que fui fraca, não aguentei e fugi.... mesmo que me vejam o corpo, não conseguirão encontrar-me a alma...aniquilei-a.

Friday, November 10, 2006

Atchim, atchim, sniff, sniff, coff, coff...

Que chatice andar nesta incultura a virús. As constipações nunca vêm nas alturas certas. Dias e dias em que choveu a potes, assim que espreita o sol radioso, pimba...atchim, atchim, sniff, sniff, coff, coff... Não há direito... Planos para o fim de semana, ir andar de bicicleta para a praia, um raid fotográfico na Serra, etc...etc... nickles batatoides. Troquei pelas pantufas, o cobertor, o lenço ( amigo de todos os minutos), o xarope e as saquetas do genérico. Com estas condições agora sim apetecia uma chuvinha lá fora, o friozinho, para acompanhar cá dentro com música, chá e um livro. Mas não, prevê-se sol radioso e temperatura a rondar os 24º! Até parece que o Senhor do Tempo anda a brincar comigo! Se faz favor emende a mão! Eu faço uma petição, só tem de me dizer onde a entrego, mande o endereço se faz favor. Caso seja longa a distância, envio-a a pagar no destinatário.

Wednesday, November 08, 2006

Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas

Um exercício proposto pelo Pedro Ribeiro,achei deveras interessante, no entanto parece-me extremamente difícil. Vou entrar na viagem do auto-conhecimento.


Nunca fui à Lua, mas passo lá os dias.
Nunca fui cientista, mas reinvento-me todos os dias.
Nunca me perdi, mas perco-me nos meus pensamentos.
Nunca me senti abandonada, mas vivo só.
Nunca deixei de ouvir música, mas adoro o silêncio.
Nunca me senti presa, mas a ideia aterroriza-me.
Nunca saltei de pára-quedas, mas já me estatelei várias vezes.
Nunca corri a maratona, mas já me senti como se o tivesse feito.
Nunca dei a volta ao mundo, mas no mapa já percorri as principais estradas.
Nunca visitei a Biblioteca do Congresso em Washington, mas gostava de ler todos os livros que ela contém.
Nunca gostei de pássaros, mas adoro voar.
Nunca gostei de alguém e fui correspondida, mas gostava de experimentar.
Nunca fui à Baviera, mas se pudesse voltava lá todos os dias.
Nunca saltei de um precipício, mas sinto-me cair a cada dia que passa.
Nunca fiz mergulho, mas é debaixo de água que me sinto livre.

Monday, November 06, 2006

Um fantástico fim de semana

Foto: MT


E assim se passou um fim de semana fenomenal, aliás como deveriam ser todos. Vou enfrentar a semana que se avizinha de alma renovada, pronta para enfrentar as batalhas que se aproximam.
E para encerrar nada melhor que comer um pedaço de torta de chocolate branco acompanhado por um copo de leite, para dormir e sonhar com os anjos.
Beijinhos
Divirtam-se!

Friday, November 03, 2006

O Mar


Foto: MT

Ai as saudades do mar...
Dos passeios na praia em pleno Inverno.
Venha a água acalmar a alma, que anseia pela paz, que nem o ronronar da minha princesa consegue provocar.


"Não é nenhum poema
o que vos vou dizer
Nem sei se vale a pena
Tentar-vos descrever
O Mar, O Mar
E eu fui aqui ficando
só para O poder ver
E fui envelhecendo
sem nunca o perceber
O Mar, O Mar"
Pedro Ayres Magalhães

Sunday, October 22, 2006

Fragmentos de Mim

Foto: MT

Nunca foste uma desilusão, nem conto que o venhas a ser. Nunca foi o meu propósito. Mas por vezes ser “eu” não é muito fácil, tenho noção que sou 8 ou 80, nunca fui capaz do 40. E por muito que o exija, para mim o equilíbrio não é fácil, eu sou corda bamba, preciso da emoção para me sentir viva. Por isso não sou consensual. Como tal, não o sendo em alguns aspectos, sou extremamente emotiva, nem sempre consigo controlar essas emoções, quando isso acontece o meu lado racional cessa, deixa de existir. E foi isso que aconteceu, depois paro para pensar, com o coração já frio, e vejo as injustiças que cometo, mas infelizmente não fui capaz de as controlar. Um dia pode ser que isso acabe, para já é superior a mim, não o controlo.
Peço desculpa por tudo. 100% Sei como sou difícil de aturar por vezes (ou muitas vezes).
Não queria que fosses apanhado no turbilhão. És especial para mim.

Friday, October 06, 2006

Princesa

Foto: MT

Estás doente. O meu coração está apertadinho, bem pequenino, está aflito, não consigo pensar em mais nada do que na urgência da tua melhora. Sinto me culpada, afinal de contas não tomei os cuidados necessários que a tua frágil existência exige. São ocasiões destas, que me demonstram a tua importância para a minha sanidade mental e emocional.
És a minha alma, sempre que te olho vejo-me espelhada em ti. És o meu coração, antes de ti ele não tinha utilidade. És o contrário de solidão e não há dúvida que terminaste com a minha. És a minha confidente, a única a que confio as minhas angústias e alegrias, e tu, à tua maneira, lá me compreendes. Apetece-me pegar-te ao colo, embalar-te e afastar todo o mal de ti, porque tu a pouco a pouco foste afastando-o de mim.
E agora vejo-te deitada, frágil e sinto-me impotente. Não sei o que fazer, não sei o que pensar, fico aqui à espera de te ver correr e brincar novamente.
Gostava de acordar e ver o sol, porque hoje o céu da minha alma está encoberto.

Tuesday, October 03, 2006

Acabou-se o Verão

Foto: MT

Infelizmente acabou-se o Verão...venham então, o cheiro da terra molhada e as tardes de domingo, chuvosas, na companhia de um bom livro. Os passeios pela praia vazia e o som das marés vivas.
Do Verão restam as saudades do sol quente e do calor... Para o ano há mais!

Sunday, September 17, 2006

...

“O Passado. Do fundo do tempo, aparecem pedaços de recordações. Demoram-se um instante, doem-me suavemente e somem-se”
Tudo passa com o tempo, por isso há que encarar a desilusão, a tristeza e a mágoa como memórias futuras distantes que um dia hão de teimar em sumir. E é disso que me convenço, enquanto vou escrevendo estas linhas. De momento estas "sensações" assolam-me, embora as últimas duas sejam arrastadas pela primeira.
As lágrimas caem, o coração fica pequenino, a alma pesa…mas tudo se supera.
Acabaram-se as palavras.

Monday, August 28, 2006

Sons Nocturnos

Escrevo a ouvir os sons bem timbrados da guitarra (viola para os mais puritanos) que me invade o ouvido a estas horas da noite. Sons que descansam bem cá dentro e que invadem, sem pedir autorização, o coração. Demoram-se um bocadinho à entrada do aparelho auditivo, mas penso lhes que entrem, sem precisarem de fazer qualquer tipo de cerimónia.
Um qualquer músico, que até à data desconheço, penso que os senhores da 2 se lembraram de nós, aqueles que começam a ver um programa após o seu início, para nos satisfazerem a curiosidade.
As adaptações que faz a fados conhecidos, como é o caso de “No Teu Poema” de Carlos do Carmo, que é senão o meu fado preferido definitivamente um deles, é no mínimo de cortar a respiração. E no meu caso estas notas cortam-na muito facilmente. É como que manteiga para os ouvidos, descansam-se no meu coração. Relembram-me a letra sem que seja preciso a mente fazer muito esforço.

No Teu Poema”

No teu poema
existe um verso em branco e sem medida,
um corpo que respira, um céu aberto,
janela debruçada para a vida.
No teu poema
existe a dor calada lá no fundo,
o passo da coragem em casa escura
e, aberta, uma varanda para o mundo.
Existe a noite,
o riso e a voz refeita à luz do dia,
a festa da Senhora da Agonia
e o cansaçodo corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio,
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
existe o grito e o eco da metralha,
a dor que sei de cor mas não recito
e os sonhos inquietos de quem falha.
No teu poema
existe um cantochão alentejano,
a rua e o pregão de uma varina
e um barco assoprado a todo o pano.
Existe um rio
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
existe a esperança acesa atrás do muro,
existe tudo o mais que ainda escapa
e um verso em branco à espera de futuro.

E para não estragar, assim vos deixo.
Com a certeza de que vou dormir melhor, que vou meter “o coração a descansar”, que esse bem precisa, e com um sorriso nos lábios.
Durmam bem

Wednesday, August 23, 2006

Boas Férias



Foto: MT

Umas boas férias para vocês todos... lembrei-me hoje que me esqueci de vos dizer, portanto quem já as gozou que tenha sido inesqueciveis, quem as vai gozar que as torne inesqueciveis.

Beijinhos

Thursday, August 17, 2006

O Lago


Foto: MT


A calma que nos transmite o lago não é nada mais que um reflexo das mais pueris recordações que transformam o passado em presente ainda que por breves instantes. Demoram-se um bocadinho e somem-se com a mesma rapidez com que tinham aparecido.
Mas que belas lembranças essas…
Pena que não se demorem mais um bocadinho!

Saturday, August 12, 2006

Elizabeth Schwarzkopf


O mundo ficou novamente mais pobre, morreu uma das divas do canto do séc. XX, Elisabeth Schwarzkopf, sem sombra de dúvidas a minha guia no que concerne a Bach e Schubert. É com o coração um tanto ou quanto apertado que escrevo estas linhas.
Morreu um marco da História do Canto Lírico.
Fica aqui o artigo do "Jornal de Noticias" pelo qual soube da morte desta grande e polémica Senhora. Restam-nos os registros fonográficos e televisivos (como os seus famosos workshops que tantas vezes assisti na Mezzo).
Uma enorme salva de palmas para Elisabeth Schwarzkopf.



“Elisabeth Schwarzkopf, tida como umas das principais vozes do século XX, a par de Maria Callas, faleceu ontem na sua casa, em Viena, anunciou a estação pública de televisão austríaca. A soprano tinha 90 anos.Retirada dos palcos desde 1975, Schwarzkopf alimentou uma carreira recheada de êxitos, durante a qual trabalhou com maestros de renome, como Herbert von Karajan, Wilhelm Furtwaengler ou Otto Klemperer. Para a posteridade ficam as suas inigualáveis interpretações de compositores como Strauss, Mozart, Schubert e Wagner.
Nascida em 1915, em Jarocin, na Polónia, Olga Maria Elisabeth Frederike Schwarzkopf mostrou um grande fascínio pela música desde muito nova. Estudou na Berlin Hochschule für Musik e subiu pela primera vez ao palco em 1928, vestindo o papel de Eurydice numa produção de Magdeburgo.
Dez anos depois, juntou-se à Deutsche Oper de Berlín como soprano junior.
A estreia como profissional dá-se dois dias depois, com a interpretação da segunda florista no segundo acto de "Parsifal", de Wagner.
De então em diante, foi dona de um percurso ascendente, como o comprovam os seus numerosos discos. Actuou na Royal Opera House de Londres, subindo ao palco no papel de Dona Elvira, na ópera "Don Giovanni".
Foi a Condessa, em "As Bodas de Fígaro" e em "Capriccio", Marschallin em "Der Rosenkavalier" ou Alice Ford em "Falstaff".
Casada com Walter Legge, produtor inglês e "caçador de vozes" como a de Maria Callas e de Victoria de Los Angeles, a soprano de origem alemã adquiriu a nacionalidade britânica.
Com a morte do marido, Schwarzkopf retira-se em definitivo dos palcos, pois "não fazia mais do que reflectir a luz dele", disse.

Ligações perigosas
Em 1996, a incólume carreira da soprano é manchada por uma biografia de Alan Jefferson, onde o autor sugere que o sucesso da germano-inglesa se devia à sua simpatia pelo regime do III Reich. Schwarzkopf passou a integrar as fileiras do partido nazi em 1940, mas, segundo ela, por obrigação, já que o seu pai havia perdido o emprego por recusar a filiação. Em entrevista a um semanário francês, a soprano foi mais fundo, explicando em detalhe a situação. "O meu pai disse-me não tens nada a ver com política. Tens essa voz, a voz do século. Ocupa-te disso somente". Mas o "Ney York Times" havia de baptizá-la como "a diva nazi".

Schwarzkopf viveu na Suíça antes de se mudar para Viena, onde morreu.”

In “Jornal de Noticias” – 2006/08/04

Sunday, July 23, 2006

Carlos Paredes






"O Carlos Paredes é um grandalhão com aspecto simplório, mas o que esse bicho faz da guitarra é inacreditável! Nas mãos dele, este instrumento assume uma altura comparável à dos instru­mentos para música de concerto. Nada de trinadinhos à maneira do Armandinho. O exemplo do pai, o Artur Paredes, foi continuado pelo filho mas de uma forma diferente: só ouvido! O fulano consegue abranger duas séries de escalas exactamente como fazem os tocadores do flamengo e os grandes concertistas de guitarra espanhola."

Zeca Afonso numa carta, dirigida aos seus pais, datada de 23 de Maio de 1964.

Fica aqui a minha singela homenagem, a este grande guitarrista,por altura do segundo aniversário da sua morte.

Tuesday, July 11, 2006

Hora da Despedida!

Foto: MT


Chegou a altura de te dizer adeus, digo-o assim cruamente porque o sinto. Chegou a altura de dar um passo em frente, de deixar de estar agarrada permanentemente à tua imagem, uma imagem que com o passar do tempo deixou de ter falhas.
É confuso este sentimento de não precisar mais de ti, é um sentimento de liberdade por um lado, mas por outro dá-me a sensação que, algures no meio do processo, amadureci. A tua lembrança ficará para sempre gravada na minha memória, jamais te esquecerei. Não tenho necessidade, no entanto, de te trazer agarrado a mim, todos os dias, todas as horas, sempre presente no meu pensamento. Perguntas porquê? Pois também não sei…talvez porque o tempo realmente cure todas as feridas, mesmo as mais profundas, como a que me deixaste. Talvez porque estou preste a fechar mais um ciclo da minha vida e porque sinto que não fazes parte do que se vai iniciar, talvez porque te sinta, não te ofendas com o que te vou dizer, como que um grilhão agarrado à minha perna e que não me deixa prosseguir, ou simplesmente porque deixei de sentir que a tua presença era essencial para a minha vida. Talvez porque seja a lei natural das coisas, na realidade material há doze anos que deixaste de fazer parte da minha vida, no entanto na imaterial não dei por isso, mas faz muito pouco tempo talvez um mês se tanto, reparei hoje que não “falei” contigo nestes últimos dias ou semanas ou meses quem sabe…digo - te Adeus hoje como nunca fui capaz de o fazer nestes anos todos, digo - te Adeus não com dor mas com o carinho e saudade que te são devidos, digo - te Adeus numa sentida homenagem a um ser humano estupendo que marcou, para todo o sempre, a minha vida.
Digo-te Adeus na esperança de um dia te poder voltar a dizer Olá.

Monday, June 19, 2006

Alma Perdida

Alma perdida,
Corpo dormente
Sorriem os meus olhos
A toda a gente
Começa o silêncio…
Saem-me mudas as palavras
Falha -me a voz
Fechei-me
Não quero sentir mais nada!

Procuro palavras
Que digam
Que estou aqui
No entanto elas só dizem
O que não quis


MT

Tuesday, June 13, 2006

Ligeti


Morreu György Ligeti.

Fica aqui o meu testemunho sobre a vida de um grande compositor, um dos que mais admiro.

György Ligeti nasceu a 28 de Maio de 1923 em Dicsöszentmárton, que actualmente se chama Tirnaveni, uma pequena cidade na Transilvânia que pertence à Roménia desde 1920.
A família do compositor era judaica húngara, facto que o vai marcar durante a II Guerra Mundial.
Com a mudança de residência, para Koloszvar, abrem-se as portas da cultura para o jovem György, começa a frequentar o meio musical da cidade.
Chegada a fase de optar por uma via profissional, Ligeti, vê-se no meio de um impasse, em que seria o destino a fazer a opção por ele, seguiria Música ou Física? No entanto a presença Nazi na Roménia iria ser decisiva, apenas existia uma vaga para Física para alunos judeus e Ligeti não a conseguiu. Não obstante quem conhece a obra de Ligeti percebe perfeitamente que a paixão pela Física manteve-se ao longo da sua carreira, irá utilizar sistematicamente recursividade, fractais, a teoria do caos e outros conceitos físico-matemáticos.
Em 1944 o Nazismo volta a fazer das suas ao jovem Ligeti, e este tem de servir o exército bem pertinho do final da II Grande Guerra, enquanto a sua família era levada para os campos de concentração de Bergen-Belsen e Mauthausen, onde viriam a falecer o pai (violetista) e o irmão (violinista), embora a sua mãe consiga sobreviver em Auschwitz.
Naturalmente, estes anos marcaram imenso o compositor que sendo de trato bastante afável dizia que transportava em si “um ódio imenso”. Um sentimento que aumentará com a ditadura comunista, da década de 50, e que se vê expressa em obras como o Requiem de 1965.
Sob o governo de András Hegedüs, a Hungria passa pela "restalinização", sob o signo da colectivização compulsória e do terror da polícia secreta.
À semelhança do Nazismo, o regime comunista condena a Música Moderna, e Ligeti torna-se então persona non grata para o partido, ao apresentar uma música de Stravinsky aos seus alunos.
Ao ouvir na rádio Gesang der Jünglingen de Karlheinz Stockhausen, esta fá-lo descobrir um mundo de possibilidades musicais para além da Cortina de Ferro, ao mesmo tempo que lhe confirmava o exílio em que ia vivendo.
A frustração após o fracasso da revolução anti-soviética de 1956, que se juntou ao sufoco intelectual e pessoal faz com que Ligeti fugisse para a Áustria.
Pouco depois é convidado a trabalhar com Stockhausen, Eimert, Luciano Berio, Luigi Nono e Pierre Boulez entre muitos.
Ligeti fez parte da nata da música moderna europeia e ombreou entre os primeiros.

Segundo Augusto Valente:

“Um dos enigmas do homem György Ligeti é sua capacidade de evoluir sempre, porém mantendo-se fiel às suas paixões originais. Pois o interesse por mundos artificiais já se manifestara na infância, quando ele inventou Kylwiria, um reino imaginário, com um mapa, língua e história próprias.
Ainda adolescente, a caminho da aula de piano, Ligeti imaginava uma música estática, porém sempre em movimento. Um ideal que ele reencontrará nas obras medievais e que perseguirá de diversas formas em suas próprias composições. Certa vez, ele comparou a música a alguém que contempla o mar através de uma janela. O que o compositor faz é abrir essa janela. Quando ela é fechada, a música continua lá. Uma nobre utopia, da qual esse compositor pan-europeu consegue se aproximar como ninguém.”



Ligeti morreu ontem, Viva Ligeti!

Tuesday, May 30, 2006

Deixem-me

Tenho andado um bocadinho afastada, mas estas semanas têm sido um turbilhão de emoções e sentimentos, sinceramente nem sei que vos diga, sei que não tenho andado muito em mim, gostava de poder ser mais racional.
Esta altura está de facto a ser um bocado complicada, mas a vida é feita destas coisas porque senão deveria ser um desconsolo.
Confesso que com isto tudo tenho aprendido várias coisas, que provavelmente utilizarei no futuro, ou não…que me têm feito crescer é certo, mas também por esta altura já não sabiam que eu NÃO QUERO crescer?
Existem coisas que nos entristecem o fundo da alma e contra as quais não conseguimos encontrar formas de combate…eu pelo menos não consigo. E contorço-me diariamente a pensar nelas…porquê? Não sei, dizem que senão os conseguimos vencer para nos juntarmos mas eu não consigo, confesso que não consigo, é superior a mim.
Gostava de por um momento poder voar ao sabor do vento, planeando sobre o mar, para me sentir livre e poder esquecer…mas para isso resta-me o sonho, de outra forma não vou lá.
Preciso de cantar, angustia-me esta ausência de palco, preciso de deitar fora uma série de sentimentos que cá andam guardados.
Mas porque tem de ser tão complicado a vida, não há forma de simplificar?

Ficam aqui umas frases que escrevi com quinze aninhos e que demonstram o que sinto agora:

“Deixem me ser, ora bolas!
Deixem-me, deixem-me, deixem-me…
E se não me quiserem deixar,
Olhem-se ao espelho que terão muito para onde olhar”

Saturday, May 13, 2006

Desabafo

Sentada na esplanada, penso na vida e no que me vai fugindo por entre os dedos, é certo que já não tenho vinte anos, a verdade é que não me sinto a caminho dos trinta, gostava de poder voltar a trás e experimentar coisas que não fiz, sem que esquecesse as que realmente fiz.
Cada vez tenho mais a certeza que uma vida é pouco, para tudo o que gostava de poder aprender, ver, sentir, ouvir e conhecer. Eu gosto tanto da vida que se pudesse seria imortal.
Estou a ter um bocado de problemas a lidar com esta história da idade, os meus amigos também não ajudam ou são mais novos, em alguns casos bem mais novos, ou então bastante mais velhos, são raros os que estão na mesma faixa etária, e esses parece-me que têm a coisa bem resolvida porque enveredaram pela opção da família, ora essa opção por agora parece-me bastante prematura.
Sou sozinha, sempre fui, nunca gostei muita da companhia. Fazem-me muita confusão as dependências. Gosto de estar assim. Não digo que não mude…o futuro a Deus pertence.
A idade trouxe-me um pouquinho mais de ponderação, mas mesmo assim continuo a ser de extremos e a acreditar em causas, não baixo os braços facilmente, mas também já não me atiro para baixo dos “bulldozers”. Estou diferente e com plena consciência disso.
O que é facto é que isso me assusta e muito, sinto-me à beira de um precipício e sei que tenho de me atirar mas o medo é muito, embora sinta o pára-quedas nas costas.
Sei que daqui a um ano tudo estará diferente, arrepio-me é por não saber como estará tudo. Sempre consegui visualizar todos os passos que dei, e isso deu-me confiança, ultimamente não consigo.
Desculpem o desabafo, mas tenho alguns problemas com a oralidade neste tipo de coisas, e existem certas alturas em que se tem de gritar e esta foi uma delas.
Obrigada pela vossa amizade e persistência em ler as minhas tolices.


Saturday, May 06, 2006

Let me not

Numa semana em que Coimbra está em festa e com a Fonte dos Amores como pano de fundo, deixo-vos aqui o meu soneto preferido de Shakespeare e a respectiva tradução de Vasco Graça Moura, confesso-vos que não gosto muito desta tradução, mas é a única que possuo.


Foto:MT

"Let me not to the marriage of true minds
Admit impediments; love is not love
Which alters when its alteration finds,
Or bends with the remover to remove.
O no, it is an ever-fixed mark,
That looks on tempests and is never shaken;
It is the star to every wand`ring bark,
Whose worth`s unknown,although his height be taken.
Love`s not Time`s fool, though rose lips and cheeks
Whitin his beding sickle`s compass come;
Love alters not with his brief hours and weeks,
But bears it out even to the edge of doom.
If this be error and upon me proved,
I never writ, nor no man ever loved."


Foto:MT

"Não haja impedimentos à união

de alma fiéis; amor não é amor

se se alterar ao ver alteração

ou curvar a qualquer pôr e dispor.

Ah, não, é um padrão constante

que enfrenta as tempestades com bravura;

é estrela a qualquer barco navegante,

de ignoto poder, mas dada altura.

Do Tempo o amor não é bufão, na esfera

da foice curva em bocas,róseos rostos;

com breve hora ou semana não se altera´

e até ao julgamento fica a postos.

E se isto é erro e em mim a prova tem,

nunca escrevi e nunca amou ninguém."

Wednesday, April 26, 2006

1º Aniversário de Entre Mares e Planuras

O Entre Mares e Planuras fez um ano, como tal decidi dar-lhe nova cara, penso que já era necessário, aconteceu um imprevisto e fiquei sem os links a blogs que me agradam, uns sei de cor mas por isso peço-vos que deixem o vosso comentário para que os possa adicionar.
Ao longo de 41 "posts" escrevi sobre muita coisa, mais ainda ficou por escrever, quero agradecer desde já a todos os amigos que o visitam regularmente, especialmente à Washy e ao Paindock, e a outras pessoas que não conhecia e que passei a conhecer através dele, o meu obrigada a todos.
Espero conseguir voltar a ter tempo para escrever textos "mais meus", em vez de pesquisa sobre assuntos que me interessam, de momento não é possivel mas espero que o seja em breve.


Beijinhos a todos, obrigada pela visita e voltem sempre

Saturday, April 22, 2006

Porto Campeão Nacional 2005/2006

Parabéns FC Porto, Campeão 2005/06!!!




Foto: António Simões/Lusa



Foto : Estela Silva/Lusa



Foto: Estela Silva/Lusa


Foto: António Simões/Lusa


Foto: João Abreu Miranda/Lusa


Foto: António Simões/Lusa


Foto: João Abreu Miranda/Lusa

Thursday, April 13, 2006

Os primeiros vinte anos do século XX

Movimento Académico em Lisboa (1907)


O tema do mês de Abril vai ser: Os primeiros vinte anos do séc. XX.
Porquê? Porque eu gosto da época, porque me fascina, porque quero conhecer mais e a vários níveis.
Não sei por onde vou abordar, sei que serão textos com este âmbito.
Espero que se divirtam. Já sabem estou completamente receptiva às vossas propostas.
Para iniciá-lo da melhor forma deixo- vos com um poema de Teixeira de Pascoaes.

Escritor:

“Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos (1877-1952), que nas letras assinou com o nome do lugar que povoaria de sombras toda a sua obra, nasceu em S. João de Gatão, estudou no Liceu de Amarante e na Universidade de Coimbra (1869-1901) de onde saiu "bacharel à força" apto às lides forenses. Principal mentor do movimento da Renascença Portuguesa (1912), cuja voz (A Águia) dirigiu até 1916 - apostolando a filosofia da saudade, entre a lembrança e o desejo de um "regresso ao paraíso" que só ele logrou pressentir - homiziou-se, depois, à vista do Marão, onde incessantemente revisitou e deu à luz uma extensa obra que, ainda hoje, apenas se insinua por detrás do seu "verbo escuro".”

Eu tive a oportunidade de conhecer mais de perto Teixeira de Pascoaes através de alguns dos seus familiares ainda vivos, e devo-vos dizer que me deparei com uma pessoa com um sentido de humor apuradíssimo, algum mau feitio e um vicio do tabaco que o conduziria à morte, muito distante do retrato que lhe pintava, enquanto lia o seu trabalho. Espero que gostem.


CONFLITO


A vida é não e sim... É realidade
Que num fumo ilusório se dissolve
E uma ilusão que se condensa em mármore...
E bato com a fronte em névoas que aparecem
Como brutos penedos, e em penedos
Que, diante de mim, se esvaem como névoas.
Falo às sombras nocturnas. Interrogo
As pobrezinhas cousas da Natura,
Mortas recordações da Luz divina...
Quero entender os íntimos murmúrios
Do zéfiro da tarde, e os trágicos remorsos
Que o vento grita às árvores contorcidas,
Num desespero doido!

Quero atingir as formas invisíveis!
Sentir, cheio de medo e num encantamento,
O contacto das almas que me cercam
E desceram, cantando, a Luminosa Via...

Quero sentir, nas mãos, a pequenina estrela
Que se ri para mim, do fundo de uma lágrima!
Quero roubar ao sol um fio de oiro, e à lua
Um cabelo de prata,
E uma negra madeixa à noite maternal
Que já me trouxe ao colo,
E me deu de mamar o leito que alimenta
As sombras e os espectros, quando nascem.

Exalto-me de amor e desfaleço!
Caio por terra e fico adormecido...
Sonho que estou cantando e canto nos meus sonhos
E imagino cantar, no mundo, à luz do sol...
E no meu canto vou levado, como as nuvens
Nos ais que o vento dá...

E vou na minha voz que se comove
E comovida alcança as últimas estrelas,
Donde já se descobre o riso madrugante
Da Luz original que mana duma fonte
Que só os poetas ouvem murmurar.

Lá vou na minha voz, a voz dum sonho etéreo,
Desenhando no lívido silêncio
Não sei que estranha e lívida figura,
Na qual todo o meu ser, de longe, me aparece
E, olhando-me, não sabe quem eu sou.

Tudo o que em mim é clara realidade,
Desconhece o meu ser lendário; não entende
O sonho que me fala
E me deixa hesitante, a procurar-me
Entre uma aparição em que padeço e vivo
E uma aparência vaga em que me sinto morto.

Eu ouço-me falar e fico atento a ouvir...
Exclamo: - sim! Logo respondo: - não!
Sou e não sou! Aflito, me debato
Nesta incerteza! De repente, existo!
De súbito, faleço, como o arcanjo
Que, nas nuvens oculto, apenas mostra
Do seu perfil um lívido sorriso
E do seu corpo as asas de relâmpago.

Sou e não sou. Duvido e creio. Vivo
E jazo, dentro de mim,
Neste velhinho túmulo onde a sombra
Se foi acumulando e empedernindo
E modelando no meu próprio busto.

Repouso e a noite estende-me os seus braços.
Acordo e tenho medo! Vejo, em tudo,
O espectro do meu sonho, imagens mortas,
Almas de Deus que a dor petrificou,
Árvores que foram ninfas e uma terra
Toda cinza de extintas labaredas.

Sou e não sou. Duvido e creio. Rezo,
A voz elevo em orações de lágrimas,
E caio num silêncio que separa
Dois gritos, dois relâmpagos de dor!
Creio e descreio. Nego Deus e encontro-me
Abandonado, como tu, Lucrécio,
Num deserto infinito onde as estrelas
Brilham, de noite, como areias de oiro.

Abala-me um terrível desespero!
Sou fogo em que me queimo! Não sou mais
Que um fantasma perdido e condenado
A errar, na solidão, perpetuamente.
Chamo em voz alta por alguém. Apenas
As cousas me contemplam, como estátuas
Da morte e do silêncio.

Mas por divina graça misteriosa,
Julgo que nelas transparece, às vezes,
Não sei que imagem sobrenatural...
Inefável encanto a ganhar vulto
De etérea aparição...
E como as nuvens choro, e como as nuvens
Dir-se-á que me dissipo e me converto
Em transparência azul, onde se vê surgir
Meu íntimo perfil que se ilumina,
Tão alegre e tão vivo que parece
Todo esculpido em oiro amanhecente.

Sinto-me deslumbrado e creio em ti, Senhor.
Ó alma, creio em ti, como nas Cinco Chagas!
Creio na vida eterna! Ajoelho e rezo,
Como rezava outrora, ao pé de minha mãe,
Quando as Ave-Marias do crepúsculo
Derramam, pelo ar,em lágrimas de bronze,
Uma saudade que anoitece o mundo.

Creio na alma eterna e creio em ti, Senhor!
Rezo na minha igreja, em frente dum altar,
Onde o Menino tem um cordeirinho ao colo,
E nos lábios em flor um místico sorriso,
E debaixo dos pés um astro luminoso,
Varrendo para longe as sombras que escurecem
As amplidões infindas...

Eu creio em ti, Menino Deus! Eu creio
Na tua infância eterna! A divindade
É infância e Primavera.
Creio num Deus que foi menino e teve mãe
Que num berço o embalou e acalentou nos braços...
E foi preso, julgado, escarnecido
E condenado à morte.

Eu creio em ti, meu Deus,
Ou deitado num berço pequenino
Ou pregado num trágico madeiro
Que na terra criou fantásticas raízes
E cobriu de flores...

Mas, súbito, entristeço, empalideço.
De novo, o meu espírito desvaira.
Um mau demónio me persegue. Vejo-o...
E em meus olhos se faz a noite escura,
Onde os astros se apagam, como as lágrimas
De madrugada, ao vento do Marão.

Sou e não sou. Duvido e creio. Grito,
Desenho a fogo o meu perfil nas trevas.
Rezo, esboçando a minha imagem triste
Na penumbra doirada que se orvalha
De pérolas acesas.

Rezo, blasfemo e grito. Sou demónio,
Sou anjo. Vou ardendo em labaredas,
E vou deixando, atrás de mim, um rasto
De cinza e de silêncio.

Monday, April 10, 2006

E agora?

Foto : Alberto M.
www.albertomonteiro.com


Agora que o Entre Mares e Planuras encerrou o seu período dedicado a grandes mulheres, confesso que me assola um vazio criativo, espero que possam contribuir com ideias, pois a mim agradou-me particularmente esta maneira de funcionar por temas.
Espero as vossas contribuições, espero poder fazer algo diferente durante este mês de Abril em que o Entre Mares e Planuras faz um ano.

Saturday, March 25, 2006

Ticha Penicheiro


Chegou a altura de homenagear alguém da minha geração, Ticha Penicheiro, que para além disso, é ainda minha conterrânea, pareceu-me a pessoa ideal para homenagear.
Sendo portuguesa conquista o sonho de todos os meninos e meninas que jogam ou jogaram Basket, por todo o mundo.
Em 2005 conquistou o Campeonato da WNBA, já em 2006 ajudou uma equipa russa a ganhar a Taça da Europa, entre tantas outras taças e campeonatos que estão já no palmarés de Ticha Penicheiro.
Não vos vou massar com biografia da Ticha, porque conseguem-na encontrar facilmente, mesmo que procurem noutras linguas, que não o português ou o inglês, deixo-vos antes com algumas fotos desta "warrior" (segundo as palavras do treinador Sonny Allen).

Thursday, March 23, 2006

Teresa Cascudo


Cabe a vez, a outra senhora que tive a sorte de ter como professora, desta feita de Teoria da Música e História da Música quer Ocidental quer em Portugal, outra grande mulher que se destaca num mundo maioritariamente de homens.


Teresa Cascudo (n. Figueres, 1968) es actualmente profesora de la licenciatura on-line en Historia y Ciencias de la Música, impartida desde 1999 en la Universidad de La Rioja. Se licenció en Filosofía y Letras en la Universidad de Zaragoza, habiendo cursado su diplomatura en Logroño, en el entonces Colegio Universitario de La Rioja. Concluyó el grado medio de piano en el Conservatorio Profesional de Música de Logroño. Fue becaria Erasmus en las Universidades de Lyon y Nantes, y del Ministerio de Asuntos Exteriores en la Universidade Nova de Lisboa. Es doctora en Ciencias Musicales (especialidad Ciencias Musicales Históricas) por la Facultad de Ciencias Sociales y Humanas de la Universidade Nova de Lisboa. Su tesis doctoral abordó las consecuencias que la idea de “tradición” tuvo en la obra musical y ensayística del compositor portugués Fernando Lopes-Graça (1906-1994).
Fue profesora de la licenciatura en Música de la Universidad de Évora y asesora del Departamento de Cultura del Ayuntamiento de Cascais, en cuyo Museu de la Música Portuguesa ha comisariado varias exposiciones documentales y donde organizó el archivo del compositor Fernando Lopes-Graça. Es autora del catálogo de su obra musical, publicado en 1997. Ha colaborado como crítica de música en el diario electrónico MundoClásico.com y en el periódico portugués de tirada nacional Público. Comisarió las exposiciones conmemorativas en homenaje de José Viana da Mota (1868-1948) y Frederico de Freitas (1902-1980) organizadas por el Museu da Música de Lisboa, museo nacional dependiente del Ministerio de Cultura portugués.
Forma parte de la dirección de la Associação Portuguesa de Ciências Musicais y es directora-adjunta de la Revista Portuguesa de Musicologia. Es investigadora del Centro de Estudios Interdisciplinares del Siglo XX (CEIS 20), de la Universidad de Coimbra (unidad de investigación homologada por el Ministerio de Estudios Superiores, Ciencia y Tecnología portugués), y está integrada en el grupo Corrientes Artísticas y Movimientos Intelectuales, coordinado por el Profesor António Pedro Pita.

Libros publicados:

A tradição musical na obra de Fernando Lopes-Graça. Um estudo no contexto português (Coimbra: Editorial Ariadne, publicación prevista en 2006).

(editora en colaboración con Ricardo Alves), Fernando Lopes-Graça e os presencistas, primer volumen de la edición de la correspondencia de Fernando Lopes-Graça (Cascais: Câmara Municipal de Cascais, publicación prevista en 2006).

(comisaria de la exposición y editora del catálogo con Helena Trindade) Frederico de Freitas (1902-1980) (Lisboa: Ministério da Cultura/Instituto Português de Museus, 2003).

(comisaria de la exposición y editora del catálogo con Helena Trindade) José Viana da Mota, cinquenta anos depois da sua morte 1948-1998 (Lisboa: Ministério da Cultura/Instituto Português de Museus, 1998)

Catálogo do espólio musical de Fernando Lopes-Graça (Cascais: Casa Verdades de Faria-Museu da Música Portuguesa/Câmara Municipal, 1997).

Cursos y congresos (recientes e inmediatos)

«Fernando Lopes-Graça, compositor e intelectual» (título provisional), Congreso Internacional "O Artista como Intelectual", organizado por motivo del centenario del nacimiento de Fernando Lopes-Graça, Coimbra, abril 2006.

«La ópera en Lisboa entre dos siglos (XIX-XX): problemas de recepción y de construcción de identidad», curso en el Programa de Doctorado "Música, Texto y Representación", Universidad de Salamanca, enero y marzo de 2006.

«A música dos salões em Lisboa como 'emblema de ideologia' na mudança do século (ca. 1900)», II Colóquio Ibero-Americano "Tradição e Modernidade no Mundo Ibérico-Americano", Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, Coimbra, noviembre de 2005.

«Paris em Lisboa: o salão musical da condessa de Proença-a-Velha entre 1899 e 1903», 13ª Encontro de Musicologia (Associação Portuguesa de Ciências Musicais), "Os Espaços da Música", Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, octubre de 2005.

«À procura da música portuguesa: musicologia e nacionalismo em Portugal durante a primeira metade do século XX», X Forum for Iberian Studies, "Charting Transfers, Remapping Iberia", Trinity College, Oxford, junio de 2005.

«Patronage and amateurism in the construction of an aristocratic, feminine and national identity: the case of Countesse of Proença-a-Velha in Portugal», 13th Biennial International Conference on Nineteenth Century Music, St. Chad's College, University of Durham, agosto de 2004.

«25 de Abril em ópera: uma leitura de Os Dias Levantados, de António Pinho Vargas e Manuel Gusmão», Coloquio "O Dia Inteiro: 25 de Abril e depois (artes, artistas, intelectuais)", Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, Coimbra, mayo de 2004.

Artículos publicados:
«Por amor do que é portugués: el nacionalismo integralista y el renacimiento de la música antigua portuguesa entre 1924 y 1934», en Juan José Carreras y Miguel Ángel Marín (eds.), Concierto barroco. Estudios sobre música, dramaturgia e historia cultural (Logroño: Universidad de La Rioja, 2004), pp. 303-324.

«À luz do presencismo: uma leitura da Introdução à música moderna (1942), de Fernando Lopes-Graça», Lecturas: revista da Biblioteca Nacional, 12-13, 2003, pp. 107-124.

«A música em Portugal entre 1870 e 1914», en Michel’Angelo Lambertini. 1862-1920, catálogo da exposição organizada pelo Museu da Música (Lisboa: Instituto Português de Museus / Museu da Música, 2002) pp. 61-71.
“A década da invenção de Portugal na música erudita (1890-1899)”, Revista Portuguesa de Musicologia, 10, 2000, pp. 181-226.
“Relações musicais luso-brasileiras em finais do século XIX”, Revista Camões, Outubro-Dezembro de 2000, pp. 136-141.
“Iberian Symphonism (1779-809): Some Queries”, en Malcolm Boyd and Juan José Carreras (eds.), Music in Spain During the XVIIIth Century (Cambridge University Press, 1998) pp. 144-156.
“Que fazer sem um Camões sinfonista? Fernando Lopes-Graça e o problema da tradição da música portuguesa”, Revista Portuguesa de Musicologia, 6-7 (1995-6) pp. 127-139.
“La formación de la orquestra de la Real Cámara en la corte madrileña de Carlos IV”, Artigrama, 8 (Zaragoza, 1998) pp. 79-98.
“El lenguaje de la música: variaciones sobre una metáfora sugerente”, Revista de Teoría Literaria, 10 (Alicante, 1997) pp. 461-481.
“Penélope musicóloga: musicología y feminismo entre 1974 y 1994” en Marisa Manchado (ed.), Música y mujeres (Madrid: Librería de Mujeres, 1997) pp. 179-190.
Comunicaciones publicadas:

«Wagnerismo y nacionalismo musical en Portugal: la influencia del musicógrafo de origen español Antonio Arroyo», en Mariano Lambea (ed.), Actas del VI Congreso de la Sociedad Española de Musicología, organizado en Oviedo en noviembre de 2004 (en prensa)

«Quimera vs. Razão: a musicologia portuguesa e a musica antiga durante a primeira metade do século XX», en António Pedro Pita y Luís Trindade (eds.), Transformações estruturais do campo cultural português (1900-1959), coloquio organizado por el Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS 20), Coimbra, octubre de 2004 (en prensa)

«The influence of Teófilo Braga in the creation of a `Portuguese national music’», en Anastasia Siopsi (ed.), International Conference Romanticism and Nationalism in Music, Ionian University, Corfu, 17-20 de octubre de 2003 (en prensa)

«Nacionalismo y música en Portugal a finales del siglo XIX», en Enrique Sacau (coord.), Actas del Primer Congreso Internacional de Musicología "La ópera y Vigo" (Vigo: Centro de Estudios Vigueses, 2004).

“Ser moderno en tiempos difíciles: Jesús Bal y Gay visto desde Portugal”, in Charo Ferreira e Inmaculada Pena (eds.), Xornadas sobre Bal y Gay, Santiago de Compostela (Santiago de Compostela: Xunta de Galicia, 2003).

«Fernando Lopes-Graça e os compositores brasileiros: a polémica ‘dodecafonismo vs. nacionalismo’ entre 1939 e 1954 numa perspectiva comparativa», em Manuela Tavares Ribeiro (ed.), Portugal-Brasil: Uma visão Interdisciplinar do Século XX Universidade de Coimbra, 2-5 de Abril de 2003 (Coimbra, Quarteto, 2003).

“Fernando Lopes-Graça, o músico do neo-realismo português”, in Júlio Graça (ed.), Encontro Neo-Realismo, reflexões sobre um movimento, perspectivas para um museu (Vila Franca de Xira: Câmara Municipal, 1999).

“Brasil como espelho, Brasil como argumento, Brasil como tópico: as relações de Fernando Lopes-Graça com a cultura portuguesa” in António Bispo (coord.), Brasil-Europa 500 anos: música e visões (Actas do congresso internacional celebrado em Colónia, em Setembro de 1999) (Colonia: Academia Brasil-Europa, 2000) pp. 258-272.

Ana Ester Neves



A senhora que decidi homenagear hoje, é definitavamente uma grande senhora, de todas as que homenageei até hoje, é a que me está mais próxima e por quem sinto uma admiração sem limites.
Esta senhora foi a minha professora de Canto de uma forma jamais atingida por outra, é a minha fonte de inspiração, com quem aprendi metodos de trabalho mas também lições de vida. Com uma força de vontade inigualável, um amor à arte e à vida fora do comum.
Tenho noção que para quem não a conheça, possa parecer demasiado, mas foi a minha professora de Canto. O lugar que ocupa dentro de mim, jamais será ocupado por outra. E isto só quem me conhece bem consegue compreender.
Por isso faço uma vénia para dar lugar à biografia de Ana Ester Neves, e se Miguel Sousa Tavares disse "Ninguém deve morrer sem ter ido pelo menos uma vez ao deserto!", eu digo-vos: - Ninguém deve morrer sem ter visto Ana Ester Neves em cima de palco!
Reconhecida intérprete de música de câmara, a soprano Ana Ester Neves conta também com uma sólida carreira operática, em Portugal e no resto da Europa. Tem dedicado parte significativa da sua carreira à música contemporânea, com especial destaque para a música portuguesa, tendo estreado óperas de António Pinho Vargas, de Alexandre Delgado e de Theodore Antoniou.
Diplomada pelo Conservatório Nacional de Lisboa, continuou os seus estudos na Royal Academy of Music (Londres) e na Universidade de Boston, onde concluiu o Mestrado em Interpretação. Reconhecida intérprete de música de câmara, tem exercido uma actividade intensa quer em Portugal, quer na Inglaterra, Áustria, Alemanha, Itália, Grécia, Espanha, França e EUA. Nestes paises apresentou-se também nas óperas: Carmen (Micaela), A Traviata (Violetta), As Bodas de Fígaro (Contessa), Eugene Onegin (Tatyana), La Bohème (Musetta), Le Rossignol, L’Isola Disabitata, Porgy and Bess (Bess), D.Giovanni (D. Elvira), The English Cat, Parsifal, Boris Godunov (Xenya), Albert Herring (Lady Billows), Neues vom Tage (Laura) entre outras.
Dedica parte da sua carreira à divulgação da música portuguesa, tendo-a apresentado em recitais em Paris, Madrid, Londres e Turim.
A música contemporânea também tem tido um papel de destaque na sua carreira. Estreou a ópera The Bacchae (Agave) de Theodore Antoniou em Atenas e as óperas portuguesas O Doido e a Morte (D.Aninhas) de Alexandre Delgado, Édipo, ou a Tragédia do Saber (Jocasta) e Os Dias Levantados (O Anjo Camponês) de António Pinho Vargas.
Destacam-se as suas interpretações da 14ª Sinfonia de Chostakovitch, de Les Illuminations de B. Britten, e das Szenen aus Goethes Faust de R.Schumann.
No domínio da oratória destacam-se as suas participações em: Requiem de Mozart, com a Orquestra e o Coro Gulbenkian (Coliseu dos Recreios); Requiem de Brahms (Londres); Cantatas e Weihnachtsoratorium de Johann Sebastian Bach (Lisboa e Londres); e na estreia mundial do Requiem para o Planeta Terra de João Pedro Oliveira.
Ganhou os prémios operáticos Gilbert Betjemann e Ricordi e obteve os primeiros prémios nos Concursos Internacionais de Canto Mary Garden (Inglaterra) e Luisa Todi (Portugal).
Gravou a Sinfonia nº6 de Joly Braga Santos para a Marco Polo e Os Dias Levantados de António Pinho Vargas para a EMI-Classics. Gravou também para a RTP, RDP e BBC.
É membro fundador do Trio Vissi d’Arte e é membro do Grupo de Música Contemporânea de Lisboa.
No campo da Pedagogia foi Professora Assistente da Disciplina de Canto na Universidade de Boston, leccionou Canto no Conservatório Regional do Algarve e na Universidade de Évora e Técnicas e Expressão Vocal na Escola Profissional de Teatro de Cascais. É convidada frequentemente para leccionar masterclasses de Canto nas Universidades e Conservatórios Portugueses. Tem realizado várias Acções de Formação sobre Técnica Vocal para Professores e para Locutores da Rádio e Televisão.

Wednesday, March 22, 2006

Primavera

Foto: Mastrangelo Reino

Batem as ondas do mar suavemente na areia ondulada da praia...

As flores desabrocham levemente nos prados...

Os pássaros, que ainda não estão constipados, chilreiam alegremente por entre voos de corte...

Chegou a Primavera...por entre a água que S. Pedro nos teima em atirar....

Fica aqui o registro!

Leonor Beleza



Continuando as homenagens a grandes mulheres da nossa sociedade, aqui fica uma singela homenagem a Leonor Beleza, o texto é composto por excertos de uma entrevista que deu à revista Máxima há algum tempo.
Uma carreira política toda a vida, porquê?
Quando era estudante, andava num meio onde se falava muito de política. A primeira coisa em que me envolvi foi na SEDES, em 1971. Era miúda, estava no fim do curso, tinha 21 anos. A SEDES, sem ser das oposições declaradas, era o meio onde se discutiam ideias. Eu fazia parte de um grupo de alunos, entre eles o Marcelo [Rebelo de Sousa], que tinha reuniões e ligação com alguns deputados da ala liberal, como o José Pedro Pinto Leite. Vivemos a morte dele como uma possibilidade da Ala Liberal. Só depois emergiu Sá Carneiro. No 25 de Abril, entrei no PPD. Estava na SEDES quando Sá Carneiro entrou a dizer que ia fazer um partido.
Que memórias tem da Faculdade de Direito?
Houve uma evocação da professora Isabel Maria Magalhães Colaço. Falei dessas memórias da Faculdade. A política era um entusiasmo para a nossa idade. Era a história das mulheres, que já me interessava antes, o que era na lei, as discriminações que havia. Formei-me quando a lei me impedia de ser juíza e diplomata. Agora, nos Estados Unidos, contei isso. Além das histórias políticas que vivi com a professora Magalhães Colaço, fiz parte da Comissão de Revisão do Código Civil, de que ela era Presidente. A Constituição de 1976 estabeleceu regras de igualdade que naturalmente punham em causa leis que estavam em vigor no Direito da Família. E em uma parte do Direito das Sucessões. Com vinte e tal anos participei nessa reforma legislativa. Na época, o nosso Direito Civil ficou um Direito não só moderno mas de vanguarda. Fizemos a reforma com dados exaustivos. Foi um trabalho técnico, feito numa época em que nem sempre se cumpriam horas nem prazos, mas nós cumpríamos. Num prazo muito curto, fez-se uma reforma muito exigente e técnica, sobretudo no direito da filiação, o que obrigou a muitos estudos, a muitos fins-de-semana de trabalho. Isso deve-se à personalidade dela. Lembro-me do vestido que eu tinha no dia em que estava à porta do exame de [Direito Internacional] Privado. Ela infundia terror às pessoas. Depois, o exame correu muito bem. Ela ajudou-me muito, várias vezes. Quando morreu, tínhamos um almoço aprazado.
Como se passou a sua infância? Os estudos?
Somos cinco irmãos. Os pais são do Norte. A mãe é do Porto, o pai da Póvoa. O meu avô paterno era professor da Faculdade de Direito em Coimbra. A minha mãe vivia no Porto e veio estudar para Coimbra, todas as três irmãs iam estudar para fora do sítio onde estavam. Os meus pais foram colegas no curso de Direito em Coimbra, ambos foram bons alunos. Nasci no Porto, vivi em Coimbra até aos nove anos. Tínhamos uma casa com jardim, meteram-nos em Lisboa num andar, foi complicado. Portávamo-nos mal, fazíamos barulho aos vizinhos. Estudar e fazer as coisas de uma maneira exigente era normal lá em casa. Para nós as três, era normal fazer um curso superior. Temos todas muito orgulho por a nossa bisavó ter sido médica. O meu trisavô teve quatro filhas formadas: três médicas e uma engenheira. A exigência com que éramos tratados fazia com que nenhum de nós achasse uma habilidade ter notas boas. Era um ambiente muito normal. A minha mãe achava que nos devíamos deitar cedo e fazer os estudos a horas normais. Fazia-nos visitas nocturnas de lanterna, não achávamos graça nenhuma, nós de luz acesa, a chegada dela não era nada agradável.
Como concilia a carreira política com a vida pessoal?
Isso é como todas as mulheres que têm uma vida de trabalho e familiar. Todos os domínios são importantes. Temos ansiedade de os conciliar. As mulheres vivem de uma maneira difícil a conciliação entre o trabalho e a família. Quando saí do Ministério da Saúde, lembro-me de supervisionar com mais atenção os banhos do meu filho.
Como vê a pouca participação das mulheres na nossa realidade?
Em Portugal, conseguimos fazer um percurso notável nos últimos 30 anos. Temos acesso à educação, ao emprego, ao controlo de fertilidade, à saúde. Mas há uma zona de intervenção política onde as coisas se mexem lentamente. As pessoas facilmente aceitam que a mulher esteja em qualquer lado, mas ainda não demos o passo da exigência de maior participação das mulheres. Há situações de recuos. Há as pessoas que acham normal que sejam só homens a desempenhar cargos. Ainda ontem, duas listas votadas para um órgão na Assembleia da República só ti-nham homens. Não há uma atitude, uma reacção contra isso, as pessoas não pensam antes das votações. Nas cerimónias do 10 de Junho passado, o palco tinha só homens e eu. Porque o Presidente da Assembleia da República não pôde ir. Também na iniciativa dos empresários [Compromisso Portugal], a fotografia publicada nos jornais era só de homens, aquele era o retrato do país que não é moderno. Na política, é desastroso o que se passa. A primeira diversificação necessária é entre homens e mulheres. Um dos problemas para as mu-lheres é a irregularidade dos horários. Das 8 às 10 horas poucas coisas acontecem. Esta Casa só começa a funcionar às horas a que fecham os infantários. Muitas coisas são resolvidas nos ambientes informais, em circunstâncias inacessíveis às mulheres. Há uma reunião, os homens vão todos jantar ou vão para o café, e aí decidem o que é importante. Com muitas mulheres nos sítios de decisão as coisas alteram-se.
Acredita que esta situação vá mudar?
A situação (20 por cento de deputadas mulheres) resolve-se com quotas de mulheres na Assembleia da República. No princípio era contra as quotas. Recentemente, em colegas minhas mais novas vejo que não há adesão intelectual, há simpatia, mas percebe-se que se admitem quotas. Porque as quotas funcionam noutras coisas. Funcionam para grupos diferentes dentro dos partidos, e há quotas informais nas mais variadas áreas: equilíbrio territorial, equilíbrio de grupos ou de sensibilidades dentro dos partidos, inclusão de jovens. Todos os países democráticos sabem que com ou sem quotas não pode haver listas se o poder for exercido sem mulheres. Todos os mecanismos de conservação do poder funcionam, são eles que lá estão. E elas não participam nestes mecanismos informais.
Tem um desejo para o tempo presente?
Estamos numa fase difícil. Há uma falta muito grande de líderes para estas coisas. Toda a Europa precisa de grandes líderes. Tenho sempre esperança de que melhorem. Em 1985, quando da assinatura da adesão de Portugal às Comunidades Europeias, estavam Thatcher, Mitterrand, Kohl, era um escol de líderes. Faltam nomes que fiquem na História e façam hoje as coisas evoluírem. Nomes que dêem orientação, que definam valores, que consigam construir o mundo pós-guerra fazendo a paz. "


Texto:Leonor Xavier
Fotografia: Pedro Ferreira

Ebbe Merete Seidenfaden (1941-1980)




Ebbe Merete Seidenfaden era o seu verdadeiro nome, mas entrou nas nossas vidas pelo nome de Snu Abecassis, fez parte de uma das mais bonitas histórias de amor do Portugal do século XX.
Presto aqui a minha homenagem a essa grande senhora que foi Snu Abecassis.
Faço-o não pelas minhas palavras, mas pelas palavras da sua grande amiga Natália Correia:

"Um astro fugitivo te enleou

No que é dado à paixão cumprir-se em morte;

E algo espantosamente te levou

Cioso do que é frágil no mais forte.

Ó fúria de seres morto prematuro,

Sobre o abismo, extremamente vivo,

Jogando às cartas com o anjo escuro

A luz do teu relâmpago persuasivo.

Tinhas fome de quê? de quem? de Deus?

De amor seria, pois furacão de flores,

Passaste, atirando aos fariseus,

O escândalo gentil dos teus amores... "

Natália Correia, in Recordando o Amante Francisco Sá-Carneiro Em Memoria da Minha Amiga Snu, Junho de 1984.

Tuesday, March 21, 2006

Manuela Ferreira Leite



Na tentativa de homenagear pessoas vivas, vou começar a homenagear as minhas "idolos" nacionais, sendo que a primeira é normalmente uma pessoa polémica, mas posso dizer que é a mulher que mais admiro politicamente, gosto do seu carácter forte e decidido, e embora em tempos tenha sido contra algumas das suas ideias, como por exemplo a PGA (Prova Geral de Acesso), hoje em dia penso que foi uma idiotice ter acabado com ela (estando eu entre os idiotas que a contestaram).

Aqui fica a minha mais sentida homenagem a uma grande mulher: Manuela Ferreira Leite
Maria Manuela Dias Ferreira Leite, governante e parlamentar portuguesa, é filha de Carlos Eugénio Dias Ferreira e de Julieta de Carvalho e nasceu em Lisboa a 3 de Dezembro de 1940.
Licenciou-se em 1963 em Economia pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras com a média final de 16 valores. Obteve os prémios "ex-aequo" concedidos ao "aluno mais distinto do curso", ao "aluno mais classificado do curso de Economia" e ao "aluno mais classificado na cadeira de Política Ultramarina".
Iniciou o percurso governativo em
1990 como Secretária de Estado do Orçamento até 1991 seguindo-se o cargo de Secretária de Estado Adjunta e do Orçamento de onde cessou funções em 1993 para assumir a pasta da Educação, onde, como Ministra, mostrou firmeza em relação aos estudantes, faceta pela qual viria a ser sempre conhecida. Exonerou funções em 1995 quando o Partido Social Democrata (PSD) perdeu as eleições para o Partido Socialista (PS). Regressou à vida parlamentar, a qual já tinha suspendido entre 1991 e 1995 para assumir funções no Executivo. Durante o período de 1995 a 1999 presidiu à Comissão Parlamentar de Economia, Finanças e Plano da Assembleia da República. Em 2002, e após a vitória do PSD nas eleições legislativas antecipadas por força da demissão do anterior Primeiro-Ministro, António Guterres, regressa ao Governo chefiado por Durão Barroso onde encontra uma situação orçamental grave e dá a cara a uma série de decisões impopulares e pela sua competência e firmeza adquire a alcunha, numa alusão a Margaret Thatcher, de Dama de Ferro. Manteve-se no Governo até 2004, altura em que Durão Barroso pede a demissão para presidir à Comissão Europeia. Não concordando com a nova liderança do Partido e Primeiro-Ministro, Pedro Santana Lopes, afasta-se da vida política activa e regressa ao cargo no Banco de Portugal.