Tuesday, December 12, 2006

A Caixa Encarnada - Capitulo II

Passei todo o dia, a percorrer joalharias, não encontrava as que achava serem as nossas, aquelas que simbolizavam tudo o que sentia por ti. Consegui encontrar as tulipas pretas que tanto gostas, pedi à florista que fizesse o ramo o mais simples possível. Quando entrei em casa, não cabia em mim de contente, sempre pensei que te estaria a fazer a surpresa da tua vida. Quando te estendi a caixa encarnada, e fiz a pergunta mais difícil de toda a minha vida, aquela que me dava mais satisfação, nunca pensei que a tua resposta fosse a aquela. Não aguentei, virei-me e trinquei a mão para que não ouvisses o grito que me transbordava a alma.

Sempre soube que o casamento não fazia parte dos teus planos, mas pensei que, ao fim de quatro anos e meio a viveres comigo, quisesses. Afinal a única diferença era o papel. E eu gostava tanto de te ter como minha mulher… Doeu-me tanto que decidi sair de casa, deixar-te a ti que eras a pessoa mais importante da minha vida, com quem pensei partilhar todos os meus sonhos e medos. Pior do que o não, foi a indignação que demonstraste, como se te estivesse a ofender, como se fosse a coisa mais estúpida do mundo, eu querer casar-me contigo. Pisaste os meus sentimentos, não consegui olhar mais para ti, era demasiado doloroso.

Quando sai de casa pensei nunca mais encontrar um rumo na minha vida. No entanto não foi isso que se passou, encontrei uma pessoa espantosa, alguém que me ajudou a tratar a ferida que me abriste no peito. Alguém que me ouviu quando mais precisava, mais necessitava de um ombro amigo, ainda sonhava contigo todas as noites e todos os dias. A pouco e pouco foste tornando mais distante deixaste de fazer parte do meu quotidiano. E ela começou a preencher-me os dias, os pensamentos, a minha vida.

Fomos viver juntos. Até que um dia ela perguntou-me logo de manhã, acabadinhos de acordar: E se casássemos? De um modo simples, sem grandes confusões, nem preparações. E eu respondi-lhe que sim, nem pensei, foi bastante natural. Estou feliz com a minha decisão, incrivelmente foste tu a primeira pessoa a quem tive necessidade de dizer.

Telefonei-te. Pareceste surpreendida quando ouviste a minha voz. Não falávamos há três meses, achei que não era noticia que se desse pelo telefone. Fomos tomar café, cheguei mais cedo, quando te vi aparecer ao longe a tua figura pareceu-me desconhecida, foi como se tivesse esquecido os teus contornos, o jeito do teu cabelo, a tua maneira de andar, até a tua voz. Iniciámos a conversa com as coisas banais, a família de cada um, os amigos que deixaram de ser comuns… até que me perguntaste: Que notícia é essa tão importante que não me podias dizer por telefone? Respondi-te, entre dentes, vou casar! Nunca paraste de me surpreender, começaste a rir como se não existisse amanhã, mais uma vez brincaste com algo que para mim era importante. Magoaste-me outra vez, quase tanto como da primeira. Mas continuavas a ser uma pessoa importante na minha vida, uma pedra fundamental no meu ser, por isso perguntei se querias ser a minha madrinha de casamento, balbuciaste umas palavras que imaginei quais fossem, disseste-me que não, era um absurdo, levantaste-te e foste embora.

Decidi naquela hora continuar a minha vida, sem me lembrar mais de ti. Mas desde aquele dia que voltaste ao meu imaginário. Foi uma asneira aquele telefonema, como sempre decidi seguir o meu coração e nem pensei.

Agora trago-te comigo no peito e não sei como te expulsar.

7 comments:

António said...

Olá!
Como já deves ter percebido, achei este capitulo mais claro que o anterior.
Mas estão ambos bem escritos.
A ideia de nos pores a ler o desabafo da mulher numa parte e o do homem na outra está bem imaginada.
Agora espero que continues desenvolvendo uma trama e caracterizando melhor as personagens.
Porque é que um simples papel passado numa conservatória é motivo para separar duas pessoas que notóriamente se amam?
É isso que o leitor quer saber e tu terás de dar a resposta.
Siga!
Quero ler mais!

Beijinhos

António said...

...e esquci-me de te agradecer a visita ao meu texto rememorativo das quadras natalícias da minha infância.
Faço-o agora!
Obrigado!

Beijinhos

trintapermanente said...

“For unto us a child is born,
unto us a son is given: and the
government shall be upon his shoulder: and his name shall be called
Wonderful, Counsellor, The mighty God, The everlasting Father, The Prince of Peace.”

ISAIAH 9:6

Boma Natal :)

Leonor said...

ola mt.
apreciei a sintaxe bem construida. contudo, ponho algumas reservas quanto ao facto de um homem pensar assim. é que quando um sexo escreve sobre o outro surgem algumas duvidas... será que eles serão assim?
eu nao sei. so estou a trocar ideias contigo.
beijinhos da leonoreta

Anonymous said...

Olá. você escreveu uma matéria a algumt empo atrás sobre os maori, eu tenho trabalhando para conseguir entender como eles fazem as pessas ou melhor os Hei Mataus, se eles usam algum motor especial ou alguma BROCA. pois tenho muito curiosidade em saber como são produzidas, tenho feito algumas peças mas quebro muitas brocas de dentista fazendo. você sabe qual a técnica?

Abraços e Obrigado

slipsjrp@hotmail.com

Isabel Guimaraes said...

ola Mafaldita
Gostei muito da tua historia
Sempre que uma historia de da um nervoso em certa altura é porque esta bem escrita
Espero que estejas bem
continua
Um grande beijinhos
Ana Isabel Guimaraes

Walkyrya said...

Olá rapariga!
Bem sei que andas sempre a mil à hora, com trilhentas coisas para fazer, mas... Quando é que sai esse famigerado Capitulo III ?
Há quem esteja anisosa...
Beijinhos!