Monday, August 28, 2006

Sons Nocturnos

Escrevo a ouvir os sons bem timbrados da guitarra (viola para os mais puritanos) que me invade o ouvido a estas horas da noite. Sons que descansam bem cá dentro e que invadem, sem pedir autorização, o coração. Demoram-se um bocadinho à entrada do aparelho auditivo, mas penso lhes que entrem, sem precisarem de fazer qualquer tipo de cerimónia.
Um qualquer músico, que até à data desconheço, penso que os senhores da 2 se lembraram de nós, aqueles que começam a ver um programa após o seu início, para nos satisfazerem a curiosidade.
As adaptações que faz a fados conhecidos, como é o caso de “No Teu Poema” de Carlos do Carmo, que é senão o meu fado preferido definitivamente um deles, é no mínimo de cortar a respiração. E no meu caso estas notas cortam-na muito facilmente. É como que manteiga para os ouvidos, descansam-se no meu coração. Relembram-me a letra sem que seja preciso a mente fazer muito esforço.

No Teu Poema”

No teu poema
existe um verso em branco e sem medida,
um corpo que respira, um céu aberto,
janela debruçada para a vida.
No teu poema
existe a dor calada lá no fundo,
o passo da coragem em casa escura
e, aberta, uma varanda para o mundo.
Existe a noite,
o riso e a voz refeita à luz do dia,
a festa da Senhora da Agonia
e o cansaçodo corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio,
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
existe o grito e o eco da metralha,
a dor que sei de cor mas não recito
e os sonhos inquietos de quem falha.
No teu poema
existe um cantochão alentejano,
a rua e o pregão de uma varina
e um barco assoprado a todo o pano.
Existe um rio
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
existe a esperança acesa atrás do muro,
existe tudo o mais que ainda escapa
e um verso em branco à espera de futuro.

E para não estragar, assim vos deixo.
Com a certeza de que vou dormir melhor, que vou meter “o coração a descansar”, que esse bem precisa, e com um sorriso nos lábios.
Durmam bem

5 comments:

António said...

Olá!
Um texto que, lá no fundo, é uma cantata à música, ao fado e aos poemas que lhe pertencem.
Obrigado pela tua visita.
Achas que eu meto muitas mulheres atiradiças nos meus textos?
Não tinha reparado nisso...
Mas deve ser porque gosto delas assim...ah ah ah.
(sou um pouco tímido)
Mas não vai ter sequela, não!

Beijinhos

Leonor said...

muito bem escrito e admirei-me por gostares da 2 e de fado. nao é "in" uma pessoa tao jovem como tu apreciares essas coisas. mas acho que pelo valor do conteudo da tua mensagem nao queres saber dos "in".

beijinhos da leonoreta

MT said...

António,

Tenho pena que não haja sequela porque esta história tem de facto pano para mangas...
Obrigada eu pela visita.

Lenoretta,

Obrigada pela parte da escrita.
Quanto à 2 e ao fado, gosto de fado à tantos anos que não sei se é algo que tenha a ver com a idade, mas talvez com e educação musical que tivemos nos primeiros anos de vida.
Quanto aos "in",normalmente até nem gosto muito de coisas "in".

Beijinhos

António said...

Olá!
Quasi todos os meus diálogos poderiam ter continuidade.
Mas não foi essa a minha opção.
Estou tentando ganhar alento para escrever mais uma novela com não sei quantas partes.
Mas só tentando...
Obrigado pela tua visita posterior.
Ainda bem que não achaste chata aquela enumeração familiar.
E já lá pus outro texto...eh eh
Beijinhos

António said...

Mais uma visita...mais um agradecimento!

Beijinhos