Sunday, January 29, 2006

O manto branco que cobriu a Figueira



Quando acordei, hoje de manhã, olhei pela janela e nem queria acreditar, estava a nevar na Figueira da Foz.
A primeira e última vez que presenciei tal acontecimento andava ainda na quarta classe. Por isso a relevância este post.
Ficam aqui então algumas fotografias de como fica a cidade mais bonita de Portugal coberta de branco ( estas fotos pertencem ao portal www.figueira.net).
Espero que apreciem :



















Friday, January 27, 2006

Os 250 anos de Wolfgang Amadeus Mozart


Bem, não podia deixar de comemorar o 250º aniversário de Mozart, embora não seja grande fã de toda a sua obra, existem algumas do meu agrado principalmente no que concerne à obra operática.
Como 250 anos, é muito ano e principalmente muito tempo para permanecer presente no quotidiano de muita gente, é um feito apenas alcançado por alguns.
Aqui fica a minha singela homenagem ao menino-prodígio da Música Clássica (embora não seja o único como muitos pensam, não é Chopin?).
Para não vos massar com vida e obra deixo-vos antes uns links de sites que já proporcionam essa informação:

www.infonet.com.br/mozart/

The Mozart Project

w3.rz-berlin.mpg.de/cmp/mozart.html

Parabéns ao menino Mozart, porque embora faça 250 anos, hoje é um bebé.
Comemorem o seu aniversário ouvindo muita música!
E se tiverem crianças pequenas ponham-nas a ouvir Mozart porque está provado que faz bem para o desenvolvimento intelectual dos mais pequenos.
E aproveitem para preparar o ouvido, porque vem ai um ano repletinho de Mozart. Daqui a um ano já toda a gente conhece toda a vida e obra dele, porque isto quando concerne a Homenagens é até fartar.

Monday, January 23, 2006

Devaneios Literários



Naquele de Inverno, bem gelado, sentado junto ao lago que o viu crescer, pensava em como tinha chegado àquele estado, parecia que enfrentava um ponto sem retorno na sua vida, queria voltar a ter a confiança no que fazia e do que sentia.
Tinha chegado aquele dia em que não queria ir mais trabalhar. O que antigamente o animava, agora aborrecia-o de morte, não lhe apetecia levantar da cama para ir trabalhar e tinha chegado à conclusão que mudar de emprego tinha deixado de ser uma hipótese para passar a ser uma prioridade.
Mas fazer o quê, toda a sua vida pensara em ser publicitário, e agora a lufa lufa dos deadlines e das ideias criativas esgotara-o, ao ponto de ter deixado de gostar do que fazia.
O que poderia fazer então? Não conseguia encontrar qualquer resposta.
Não conseguia encontrar a Catarina, com certeza ela iria querer resposta para o que o intrigava, e neste momento não conseguia falar sobre este assunto.

A Catarina foi sempre uma mulher bastante decidida e não sei se iria ver com bons olhos toda esta minha indecisão, por outro lado se lhe contasse podia ser que ela me ajudasse… mas o que lhe digo? Que estou farto…quero mudar…mas para onde, se nem o que quero fazer lhe posso dizer?
Podia tirar umas férias até esclarecer este assunto, há dois anos que tenho as férias em atraso, posso aproveitar agora, quem sabe quando voltar venho mais disposto e até apreciar os desafios que me forem propostos?
Bem, as férias seriam uma boa solução, mas teria também de pensar na Rita e no Pedro afinal há dois anos que não passo umas férias com os miúdos.
Quando chegou a casa o almoço já estava quase pronto, tentou esquecer os seus problemas enquanto punha a mesa.
- Então que tal estava o lago? – Perguntou-lhe a mulher.
- Estava bastante calmo, nem sequer um pescador ou um barco!
- Deve ser por ser dia de semana – retorquiu ela.
-É capaz. Olha estava aqui a pensar, quando é que os miúdos têm férias?
- Na Páscoa, porquê?
- Estava a pensar em tirar umas férias e tu quando tens?
- Estava a pensar em tirar uns dias no Verão, mas se tu tirares agora, posso ver se consigo uns diazitos na mesma altura.
- Seria perfeito.
- Mas afinal porque queres tirar férias, logo tu e nesta altura do ano? Não é que não te faça falta, muito pelo contrário…os miúdos iam adorar….
- Estou a precisar de um tempo, as coisas no trabalho não andam grande coisa, não ando a gostar do que faço e penso que umas férias me fariam bem, pode ser cansaço e saturação.
- Se calhar…ouve lá…
-Diz…
- Não, se calhar é asneira…
-Não, diz.
- Pode ser uma tontice, mas não te sentirias mais motivado se criasses uma agência tua? Há tanto tempo que trabalhas ali sem perspectivas de promoção, porque não teres o teu próprio projecto?
- É algo a pensar, se calhar tens razão, se calhar é isso que me está a provocar esta angústia toda. E os miúdos?
- Que têm?
- Começar agora um projecto e se corre mal? Eles estão ainda em idade escolar… é arriscado…
- Pode ser mas o meu salário é estável e dá para qualquer emergência, porque não experimentas? Tens os contactos necessários para uma boa carteira de clientes e ainda podes ir buscar os melhores profissionais para trabalhar contigo.
- Tens razão, vou começar a pensar a sério nisso. De qualquer forma podíamos tirar uns dias de férias o que achas?
- Sim, podemos.
Esta Catarina, eu cheio de problemas, sem saber como abordar o assunto, sem saber qual a reacção que iria ter, e ela não só me apoia como me instiga a começar de novo.
Bem, agora resta-me por as mãos à obra e começar a delinear toda a estratégia de construção de um novo sonho, parece que rejuvenesci uns 15 anos.
Por vezes os nossos maiores receios tornam-se os nossos propulsores, mesmo quando pensamos que eles são devidamente fundados.

Wednesday, January 18, 2006

A Praia


As ondas batem levemente na praia, levanto-me e dou uns passos mesmo juntinho à linha de água para depois vê-la lentamente encher as minhas pisadas.
O cheiro da maresia em conjunto com o som das gaivotas, lembram-me tempos passados, épocas cheias de alegria e contentamento.
Começo a correr, corro sem rumo, corro junto à água, que me salpica as calças de ganga, não sei para onde vou, mas neste momento não me interessa.
Lembrei-me do teu olhar, lembrei-me da tua voz, já não o vejo ou a ouço há muitos anos, mas não sei porquê, regressaram-me agora à memória, talvez porque fosse esta a nossa praia, muitos anos antes de ter parques infantis ou até mesmo campos de jogos, tu terias gostado, seguramente, da rampa para os skates.
O meu coração bate sobressaltado pela tua memória, apetecia-me falar contigo, mas sei que isso é impossível.
Demorei alguns anos até conseguir suportar a tua ausência, mas agora já não dói tanto, consigo conviver amigavelmente com a tua memória, sem me sentir magoada por ela, ou sem que a saudade seja avassaladora e me derrube.
Faz doze anos daqui a uns meses que não te vejo, no entanto continua a parecer ontem.
Olhando em volta, pergunto-me se irias reconhecer a nossa praia…incrivelmente está mais comprida, mas também está mais alegre, mais cuidada, olhando para trás, e comparando, naquela altura parecia abandonada.
A praia, as conchas, as algas, o vento, o som do mar, tudo me relembra a tua imagem como se estivesse elevada sobre o horizonte… como seria tudo se ainda pudesses estar aqui?
Até amanhã, hoje vou sonhar melhor!

A Música de Nuno Malo

A Música, que estão a ouvir, é do compositor português Nuno Malo e poderão encontrá-la em www.nunomalo.com.
Dêem uma espreitadela, eu adoro o trabalho dele e recomendo-o a toda a gente.
E é sempre agradável saber que, um compositor português, tão novo como o Nuno, tem já o extenso curriculum que ele tem. E assim sendo, quero ver como o trabalho dele vai evoluir com os anos.

Monday, January 09, 2006

A Bela Catalunha





Catalunha Triunfante!
Tornará a ser rica e plena!





A todos aqueles que fizeram da minha estadia na Catalunya memorável, muito obrigada!
À Noemi, obrigada por me teres mostrado o teu país, as suas tradições, a cultura, a música, a gastronomia, mas sobretudo pela amizade. O meu obrigada também à tua familia.
A Catalunha ficou para sempre marcada no meu coração, espero voltar brevemente, desta vez a falar já um pouquinho o Catalão!
Aos portugueses recomendo uma visita à Catalunha, em todo o seu esplendor, aproveitem Barcelona, mas conheçam a beleza do Interior, eu fiquei fã.

Thursday, December 22, 2005

Um presente de Natal



Deixo-vos aqui uma árvore de Natal de sonho, a do Rockefeller Center. em Nova York, gostava de vos deixar uma portuguesa,mas infelizmente só temos uma, grande árvore de Natal, como é de ferro ... não gosto.


" Sarasate"*

Há uma nota que vibra e voa para longe
E uma outra - a última -flui
No seu encalço - e estremece - escapa-se.
Oh, se eu pudesse chorar,
Como uma criança pelo seu brinquedo.

Ainda sentado - o júbilo torna-se estridor -
Os meus sentidos demoram-se a beber
O ar de um mundo ainda longínquo,
Um mundo que a minha inocente infância
Logo abraça com saudade.

O ar de um mundo invulgar,
Que noites a fio, em ímpeto ardente
Me mantém febril e preso no seu encanto -
A terra dos apátridas,
Este reino da arte, vermelho como o Sol

Herman Hesse
(6 de Dezembro de 1897)

* Pablo Martín Melitón de Sarasate y Navascuéz , violinista e compositor, nasceu em Pamplona a
10 de Março de 1844 morre em Biarritz em 1908

Wednesday, December 21, 2005

O Último Dia de Outono

Foto: Ilidio Pires


Deste-me a mão, para me ajudar a subir aquela rocha mais íngreme, mas valeu a pena a paisagem é de outro mundo, o Douro no Outono é algo digno de um filme.
Deixei-me ficar, juntei o meu corpo com o teu e fiquei ali, quieta, a contemplar a paisagem, em silêncio, escutando somente o ruído do rio, lá em baixo, e som do vento por entre as parreiras.
Pensava, em todo o caminho que percorrermos, no curto espaço de um mês, nunca pensei estar aqui, quando nos esbarramos literalmente na porta da livraria, trocámos umas pastas sem querer e tivemos que voltar a cruzar-nos para desfazer o erro, se não soubesse mais que isso, pensava que estávamos no centro de um enredo cinematográfico.
Convidaste-me para ir tomar café, e eu respondi-te que não bebia café, continuaste, sempre no bom caminho, e perguntaste-me se queria ir beber um chocolate quente então…e eu respondi-te que não bebia chocolate quente…e tu perguntas-te me, com razão, se eu ingeria algum tipo de bebidas, ao que eu te respondi secamente, um chá pode ser.
E foi a partir desse chá que tudo começou, depois fomos jantar, seguiu-se o teatro, o cinema e, de repente, a minha vida começou a habituar-se à tua companhia.
Começaram os longos passeios no parque, as confidências literárias, as gargalhadas junto ao mar, os passeios de bicicleta, e num espaço de duas semanas a minha vida tornou-se completamente siamesa da tua, o que me assustou, na realidade ainda me assusta.
Não gosto de companhia, nunca gostei, sempre fui e quis ser orgulhosamente só, demorei a compreender o que se estava a passar comigo. Depois percebi, a tua solidão encaixava-se completamente na minha solidão, eu na realidade continuava a mesma, apenas compartilhava um mesmo estado e senti-me bem com isso.
E aqui estou eu, aconchegada pelos teus braços a observar um rio que corre sempre na mesma direcção, sem se perguntar porquê, e se calhar nós devíamos fazer o mesmo, afinal de contas, mais cedo ou mais tarde desagua mos todos no mar.

Tuesday, December 20, 2005

Um pequeno esboço da Cultura Maori



Tive o meu primeiro contacto, com a cultura Maori, em Agosto de 2000, através de um belíssimo cd de Kiri Te Kanawa chamado “Maori Songs”, apaixonei-me pela sonoridade produzida por este povo, desde então tenho dado alguma atenção a esta cultura posicionada nos nossos antípodas e entre nós tão desconhecida, excepção feita aos amantes de Rugby que têm a referência do Haka (canto de guerra) cantado no início de cada jogo da selecção neo-zelandesa.

Deixo-vos, então aqui, alguns traços da cultura Maori que espero que vos encante tanto como a mim.


Com origem na Mongólia, em 1200 A.C. a população da Nova Guiné começou a sua peregrinação pelas ilhas do Pacífico dando origem a dois povos os Maori e os Moriori.
Os ascendentes dos Maori, sediaram-se na “Aotearoa” – Terra da Grande Nuvem Branca (Nova Zelândia), o que lhes permitiu manter e aumentar a divisão do trabalho, criando uma casta guerreira que se envolvia regularmente em guerras inter-tribais.

Em 1835, novecentos Maori, rumaram para as ilhas Chatam, a 800 km de “Aotearoa”, ilhas então habitadas pelos Moriori, que após alguma resistência foram subjugados e escravizados pelos primeiros.
Mas os Maori espalharam-se por toda a Polinésia, existem inclusivamente semelhanças nos hábitos, costumes e alguns vocábulos do Hawaii às Marquesas, Polinésia Francesa e Ilhas Cook, fruto dessa migração.

Os primeiros europeus chegam a ilha em 1820, mas só em 1840, após diversas lutas e guerras entre brancos e Maori, foi assinado o Tratado de Waitangi, celebrando a paz entre os dois povos. Após o tratado o povo Maori, ficou restrito a áreas isoladas por sua própria vontade, facto que apenas muda já perto do início do século XX.


Maoritanga - Cultura Maori

Existem várias lendas e histórias, relativas às tradições do povo Maori, como por exemplo a da criação do mundo: Panginui, o pai céu, e Papawanuku, a mãe terra, tiveram um filho Tane, criador de todas as criaturas. Outra lenda diz que os Maori são descendentes de Deus e os seus ancestrais partiram de Hawaikii em canoas e cruzaram o Oceano Pacifico – Te Mona Nui a Kiwa.

A Arte Maori está intimamente associada à paisagem e ambiente de “Aotearoa”

A dança tem um papel fulcral para o jovem guerreiro, visto que é um ponto de partida para a luta contra inimigos imaginários. Trata-se de uma dança, onde são preponderantes factores como a elasticidade e o manejamento de clavas, acrescidas da tradicional careta, em que expõem toda a língua, que tem como intenção intimidar o inimigo.

A Escultura Maori pode ser efectuada em Madeira, Osso e “Pounamu”, conta a história da tribo e dos seus antepassados mitológicos, mas que também tem uma utilidade prática como fazer waka (canoas), armas e instrumentos musicais.

A Escultura em Osso (tradicionalmente em Osso de Baleia, embora hoje em dia seja mais comum a utilização do Osso de Vaca) é outra forma importante da Arte Maori, utilizada como adorno, toma várias formas com diferentes significados:

- Hei Matau (anzol) – esta forma representa o mito de Maui. Maui pescava na Ilha do Norte usando um anzol feito com o queixo da sua avó, este anzol representa, desde então, o poder e influência dos antepassados. O Hei Matau é considerado um talismã que dá boa sorte e protecção durante as viagens.

- Koru – o Koru significa vida nova e regeneração, mas também eternidade e harmonia entre os povos.

- Manaia – este tipo de escultura representa os seres míticos com o mesmo nome, estes seres tem corpo humano e cabeça de pássaro. São considerados guardiões contra o mal.

- Tiki – baseados em figuras mitológicas.

A Escultura Pounamu (em Jade ou Pedra Verde) é extremamente difícil de esculpir, tendo por isso enorme valor entre os Maori, as suas formas mais comuns são jóias e armas.
As esculturas Pounamu herdaram as suas próprias histórias ao longo do tempo, e são conhecidas como Taonga (objectos acarinhados).




A diversidade cultural Maori encontra-se bastante presente na sociedade Neo-Zelandesa, actualmente, ao contrário do que acontece com os aborígenes na Austrália
Esta cultura tem um peso em quase todos os quadrantes de actividade, mas a maior evolução foi no sector da educação com um aumento bastante significativo de população Maori que frequenta a Universidade.
A Língua Maori, apesar de ser só usada em cerimónias tribais, é uma língua oficial juntamente com o Inglês.


Fica aqui uma pequena introdução a cultura Maori, num próximo post tentarei fazer uma aproximação a música Maori. Espero que seja um tema do vosso agrado.

Friday, December 16, 2005

Figueira da Foz por Cunha Rocha




Fica aqui o retrato da minha cidade preferida, pelo pincel de um pintor cujo trabalho adoro, Cunha Rocha.

Vinicius Moraes

O meu poema preferido de Vinicius de Moraes


Soneto do amor total


"Amo-te tanto meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te enfim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.


E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude. "



Confesso que não entendo o que leva o cérebro humano a tal entrega, as palavras são muito fortes e sentidas, adoro este poema, mas esta força de sentimento ultrapassa-me.

Wednesday, December 07, 2005

Compositor Português ganha prémio Internacional de Composição

O compositor português, João Pedro Oliveira, está de parabéns ao ter vencido ,o Concurso Internacional de Música Nova de Praga, na categoria de obras para instrumento e sons electroacústicos, com “A Escada Estreita” para Flauta e Sons Electroacústicos escrita em 1999.
O compositor, ganhou também, o segundo prémio com “Time Spell” no Concurso Internacional de Música Electroacústica de São Paulo. A obra, escrita em 2003, para clarinete e sons acústicos em seis canais, irá ser editada em CD como prémio resultante do Concurso.
Igualmente de parabéns está a eslovaca Petra Bachratá, de momento a residir em Portugal, pelo primeiro prémio no Concurso Internacional de Praga, com “Nunataq”, na categoria de electroacústica pura, esta obra faz parte do projecto de Doutoramento da eslovaca na Universidade de Aveiro.

Thursday, November 17, 2005

Casa do Passal - Aristides Sousa Mendes

Através de um comentário ao post anterior, fui tentar descobrir a realidade da Casa do Passal e deparei- me com um triste cenário, mais um marco da nossa história está prestes a desaparecer diante dos nossos olhos, sem que ninguém faça nada para impedir.
Não vos vou relatar os factos da vida de Aristites Sousa Mendes, até porque, descobri que já existem diversos "blog" a abordar esse assunto.
Mas pergunto-me se em vez de bustos, concertos de homenagem, nomes de rua,etc, se o melhor tributo a este Homem não seria restaurar a casa que ele construiu para albergar a sua enorme familia ( teve 14 filhos) e familias inteiras de Judeus, cuja vida ajudou a salvar.
Não deveria aquela bonita casa ser considerado um monumento do Anti-Holocausto, ou até mesmo Património Histórico da Humanidade?
Aristide Sousa Mendes morreu na miséria apesar da sua infinita generosidade, não seria altura de alguém a retribuir preservando a sua memória, ou até mesmo usando a Casa do Passal como um Museu, que contasse esta magnifica história de coragem às futuras gerações.
Com tantos Batmans e Superhomens a povoar o imaginário infantil seria bem melhor que os substituissem por herois de verdade.

Sites e Blogs relacionados:

www.ipv.pt/millenium25/26_16htm
www.vidaslusofonas.pt/sousa_mendes.htm
www.sopadenabos.blogspot.com
www.sousamendes.blogspot.com
www.antoniopovinho.blogspot.com/2005/10/cabanas-de-viriato-e-casa-do-passal.html


MT

Tuesday, November 15, 2005

Uma Frase Bonita

Peço desde já desculpas, a Sérgio Azevedo, mas vou utilizar uma frase que vi no seu blog, no artigo:""A música em tempos de cólera" - discurso feito no concerto em homenagem a Aristides de Sousa Mendes "

"Nenhum homem é uma ILHA isolada
cada homem é uma partícula do CONTINENTE,
uma parte da TERRA se um TORRÃO é arrastado para o MAR,
a EUROPA fica diminuída,
como se fosse um PROMONTÓRIO,
como se fosse a CASA dos teus AMIGOS ou a TUA PRÓPRIA,
a MORTE de qualquer homem diminui-me,
porque sou parte do GÉNERO HUMANO.
E por isso não perguntes porquem os SINOS dobram
eles dobram por ti."

John Donne


Depois disto, nada mais a para dizer, as próprias palavras sentem-se envergonhadas.

MT

Wednesday, November 09, 2005

Cultura Galaico-Portuguesa III

Eventos Comuns


Primavera

A Primavera é a estación do ano en que a Natureza esperta e na que se inician
todos os procesos vitais.

O carnaval é un elemento esencial do patrimonio
inmaterial, con características comúns que o tornan
único e singular no ámbito etnográfico.

Os Maios reflicten a importancia da botánica
popular, e levan asociados importantes elementos
inmateriais como coplas e cantigas.

O contacto de galegos e portugueses cun medio
natural
forte propicia unha visón panteísta da
natureza. A institución do monte comunal, por
exemplo, reflicte un aproveitamento colectivo dos
recursos naturais, o mesmo que acontece nas
comunidades pescadoras.

As Cocas de vilas galegas e portuguesas son un bo
exemplo de manifestación común idéntica, asociada
a un rico patrimonio inmaterial de Mitos e Lendas
populares.

Nas artes da pesca obsérvase un importante
coñecemento do medio natural e dos seres vivos
marítimos.

O traballo da muller, presente en todas as
actividades tradicionais, ten un gran destaque no
marisqueo ou na apaña do argazo. Símbolos como o
da cuncha xacobea ou os búzios son característicos
do noso imaxinario colectivo.

A lamprea constitue un exemplo dun produto
natural específico desta rexión, con formas
culinarias e gastronómicas que realzan a identidade
común.

Verão

No verán prodúcese o momento culminante do ciclo solar e tamén, polo tanto,
englóbanse nel todas as manifestacións de carácter festivo, lúdico e de lecer.

A festa de San Xoán é unha celebración ligada
directamente ao ciclo solar cunha forte
implantación no imaxinario colectivo e uns
interesantes compoñentes de botánica tradicional.

As romarías e as procesións marítimas ilustran as
intensas relacións marítimas presentes desde
sempre entre ambos pobos. A toponímia marítimocosteira
é un elemento importante do acervo
cultural inmaterial.

A variada tipoloxía de embarcacións tradicionais
ilustran as semellanzas e a excelencia técnica das
formas de construcción e navegación tradicionais,
con importantes elementos inmateriais como a
nomenclatura dos compoñentes e a simboloxía
asociada, por exemplo, coas marcas de construtor
ou marcas poveiras.

Tanto no mundo rural como no mundo urbano
prodúcese unha forte participación popular nestas
formas comunitarias de diversión, lecer e
relixiosidade tradicional, cunha forte carga
identitaria asociada co poboamento disperso
agrupado en freguesias ou parroquias de orixe
precristiá.

A música tradicional traduce unha excelencia nos
oficios, tanto no propio dos músicos como no dos
construtores de instrumentos tradicionais, co orixe
no fondo dos tempos.

Directamente asociadas coa música están as danzas
propias que constitúen unha marca de identidade
colectiva que permanece en moitos lugares do
mundo con presenza da emigración galegoportuguesa.
Cada danza presenta, á súa vez,
variadas e interesantes características locais.
Denominadas tamén Cantares ao Desafio,
Despiques ou Desgarradas, son un elemento
fundamental en perigo de desaparición inminente
en Galiza. Maniféstase nelas a retórica popular, a
ironía ou "retranca", con raíces situadas nas propias
cantigas de escarnio e maldizer dos trobadores e
xograres medievais.

Outono

Na estación do Outono prodúcese a recolla dos produtos ofrecidos pola Nai
Natureza, actividades nas cales se produce un rico e variado patrimonio de
carácter inmaterial.

A vendima ou os lagares de aceite, son exemplos
destes eventos colectivos, asociados a múltiples
espresións culturais.

As transformacións secundarias, como a destilación
dos bagazos
, fomentan a transmisión oral, asociada
con formas de maxia e crenzas, da que son exemplo
os esconxuros da queimada.

O liño é un exemplo de cultivo tradicional en perigo
de desaparición que se pretende revitalizar asociado
coas modernas tecnoloxías nun xeito de
desenvolvemento sustentábel.

O millo, cultivo de introdución tardía, é un exemplo
da capacidade de adaptación ás mudanzas e a
incorporación nestes de novos elementos
patrimoniais , como as esfolladas ou os seráns.

A castaña, produto natural característico da rexión,
produce manifestacións culturais comúns e propias
como é o caso do magosto.

O carro de bois, elemento de transporte terrestre
por excelencia, incorpora oficios como o do
construtor e o de arrieiro, interesante nomenclatura
propia e os coñecementos propios do cuidado dos
animais.

Inverno

O inverno é a estación final do ciclo anual, na que se engloban as
transformacións finais dos produtos de orixe natural.

O tear do liño e os bordados son exemplos da
importancia e excelencia do traballo da muller.

Os encaixes ou rendas de bilros constitúen mostras
da comunidade cultural existente, que xa se
converteu nun intenso proceso de transmisións
patrimonial ás xeracións máis novas.

O traxe tradicional constitúe un elemento de
excepcional elaboración e requinte, cunha variada e
rica simboloxía nas formas e cores e nos
ornamentos, produto dunha tradición que data da
época castrexa.

Artesanía popular maniféstase a enorme
polivalencia do mundo rural tradicional, ligado a
unha grande auto-suficiencia.

Os múltiples e variados ofícios asociados con
produtos naturais ofrecen a excelencia das súas
realizacións e o patrimonio oral das linguas propias
ou falas gremiais.

In:www.opatrimonio.org

Cultura Galaico-Portuguesa II


Cultura Común

"Esta candidatura abranxe o conxunto do patrimonio cultural común a Galiza e a Portugal. Unha cultura común que asenta as súas raízes na prehistoria e que se mantén aínda viva por enriba das fronteiras entre os dous países que presentan esta candidatura, Portugal e España.
A cultura tradicional galego-portuguesa presenta unha unidade e unhas semellanzas que evidencian que a cultura común mantivo unha identificación coa comunidade obstinadamente fiel ao pasado e que debido ás rápidas mudanzas sociais corre perigo de desaparecer.
Este patrimonio inmaterial ten a súa orixe na rexión denominada "Gallaecia" a través dos romanos, e posteriores eventos históricos fan que teña unha intensa presenza en todo o territorio do país que é actualmente Portugal, así como noutras partes do mundo debido a fenómenos de colonización e emigración.
Onde máis claramente se visibilizan os elementos do patrimonio inmaterial galego-portugués é nas distintas fases do ciclo anual, representadas de maneira simbólica polas catro estacións do ano. Sen esquecer que manifestacións orais como a lingua, os cantares, os oficios, a música, as danzas e o universo festivo e ritual teñen unha presenza constante nas dúas comunidades ao longo do ano enteiro.
Esta cultura común mantén formas de excelencia que abarcan boa parte das manifestacións profundamente asentadas na poboación e no territorio, como a existencia de actividades de tipo comunitario ligadas aos montes, a gandería ou a prácticas agrarias ou marítimas."
In:www.opatrimonio.or

Cultura Galaico-Portuguesa I

História Comum



"Do ponto de vista histórico estas terras do Noroeste Peninsular possuíram traços de cultura comum durante milénios. Assim, em quase toda a área geográfica estendeu-se a cultura megalítica no terceiro milénio antes de Cristo, que foi seguida pela chamada cultura do vaso campaniforme, a qual pressupõe o começo da metalurgia do ouro e cobre e um limiar para as influências do bronze mediterrâneo e atlântico ao longo do segundo milénio a. de C. e começos do primeiro.
Por outro lado o noroeste peninsular é uma região onde o céltico, pelas razões de mútua apropriação anteriormente apresentadas, deixa de ser o específico céltico, comum a outras regiões, para ser uma outra cultura muito própria, elemento analítico para a compreensão das suas expressões de organização social, processos rituais, mundo simbólico e mesmo de cultura material, de que os castros são exemplo acabado.
Conhecem-se restos de mais de cinco mil, alguns escavados, como Carvalhelhos, Briteiros e Sobroso em Portugal, ou Sta. Trega, Baroña, Castromao e Viladonga, na Galiza. Esta cultura, própria de povos chamados galaicos pelos escritores clássicos, é fruto de influências céltico-indo-europeias e também mediterrâneas, que se somaram ao substracto local.
Quando se refere o mundo simbólico, a marca do mundo céltico é normalmente invocada. No entanto, obsessão etnogenética da maior parte dos estudos que referem os celtas como uma unidade identitária, explicativa da cultura do noroeste peninsular, se num primeiro momento sobrevalorizou esta referencia para legitimar uma uniformidade na cultura desta região, num segundo, provocou uma forte critica e encarniçada oposição de grande parte da comunidade científica.
Para além das questões científicas, já de si polémicas, outras, como as políticas, deram azo a interpretações parciais nacionalistas, como o caso do Estado Novo em Portugal e do Governo Franquista em Espanha, que prejudicaram uma abordagem serena da questão.
Antes de qualquer formulação teórica importa entender o que queremos afirmar por céltico e por "celtas", pois talvez os pressupostos tenham inviabilizado aproximações científicas ao problema.
Qualquer aproximação ao estudo da questão celta no noroeste peninsular deve ultrapassar a dimensão arqueológica ou até a linguística, para ser feita através de uma complexidade de campos de análise que, cremos, define a especificidade da cultura desta região. A celticidade do noroeste peninsular faz-se com a prevalência de mútuas interferências provocadas pelo contacto de um substrato proto-celta com os novos grupos que aqui chegaram, sendo que se inicia assim uma mútua apropriação cultural que caracteriza a diversidade e complexidade da realidade celta, tanto a nível geográfico como cronológico.
Para alem de qualquer polémica, é indesmentível a prevalência das componentes célticas na língua, seja qual for o nível e o momento da relação entre a língua lusitana e a celta, o que configura uma relativa identidade linguística nos territórios da antiga Gallaecia.
Mas mais do que o dado linguístico, de si próprio importante, foi a confluência de povos e de culturas que se deixou plasmar por um padrão de residência e por uma organização social impostos pelas limitações económicas e ecológicas da região.
É a este conjunto de particularidades que se pode atribuir uma identidade própria, uma cultura, que os romanos reconheceram numa Gallaecia pluri-étnica, variada nas línguas e nos povos, mas unitária como território culturalmente identificado.Esta Gallaecia criada pelos romanos, abrangia as terras da Galiza, do Norte de Portugal, das Astúrias e Leão, contando com cidades como Lucus Augusti (Lugo) na actual Galiza, Brácara Augusta (Braga) no Norte de Portugal, e Astúrica Augusta (Astorga) em Leão.
A influência da administração, da língua e da religião transmitida pelos romanos, assim como novas técnicas de trabalho agrário, foi fundamental, também aqui.
A pegada de Roma fizera-se sentir em diversas manifestações culturais que chegaram até tempos recentes, entre as quais se podem destacar o começo duma cristianização do Noroeste, com pontuais peculiaridades, como o movimento priscilianista nos séculos IV-V, e uma lenta latinização que desembocará, com o passar do tempo, na aparição de línguas neo-latinas entre as quais surge a língua galaico-portuguesa medieval.
Contudo, o certo é que esta influência, bem como a dos Suevos (com capital nesta região) e a dos Visigodos, pouco alterou o mundo construído por povos pre-indo-europeus e indo-europeus, Celtas e Iberos, e readaptado pela cultura da alta Idade Media.
Numa região com tradicionais dificuldades de se organizar à volta de fortes estruturas urbanas, e onde a prevalência de economia agrária, apesar de não encontrar muitos espaços de excelência para se desenvolver, criou comunidades que tiveram que desenvolver uma relação especial com a natureza para negociar a sua sobrevivência, onde a economia agro-pastoril predominou e a exploração dos recursos marítimos foi sempre uma alternativa, desde tempos imemoriais, como demonstram os desperdícios alimentares de alguns castros.
A desorganização do império romano no seu declínio, as constantes quezílias durante a ocupação sueva e visigótica e a nunca consolidada ocupação muçulmana -região considerada pelos berberes pobre e sem interesse de tal forma que abandonaram as suas posições fortificadas e nunca mais as ocuparam- fizeram com que esta região do noroeste peninsular perdesse as relações com centros administrativos estáveis, e desse origem a comunidades rurais que privilegiaram os vínculos de solidariedade parental e vicinal, regressando a práticas arcaicas de subsistência.
São estas marcas de uma natureza difícil mas acolhedora e em luta constante com as aspirações dos humanos, de uma sociedade baseada em comunidades fortemente unidas por laços de parentesco e de vizinhança, de que os "conselhos" transmontanos são testemunho, desconhecendo a autoridade centralizadora e desconfiada do espaço urbano, que definem a cultura desta região e que se espelham na sua tradição oral.
Diferentemente do que aconteceu no centro e sul da Península, aqui sobreviveu, no século VIII e seguintes, uma cultura romano-cristã que permitiu a um investigador e pensador galego, Vicente Risco, definir o homem galaico como um homo infimae latinitatis.
Os vínculos com a Europa cristã reforçaram-se, também, com a "invenção" do sepulcro do Apóstolo Santiago, em Compostela a partir de começos do século IX, fenómeno que perdura nos séculos seguintes e que implica uma estreita relação com outros povos europeus situados além dos Pirinéus, o que reflectirá em lendas da tradição oral, nomeadamente nos romances.
Podemos, em geral, afirmar, que, apesar dos ligeiros matizes locais, a unidade cultural e política representada pela velha Gallaecia é um facto até ao século XII.
A partir desta data, contudo, começa uma lenta, mas contínua, divergência de base política entre as terras situadas ao Norte e ao Sul do Minho.Enquanto que a Galiza, quer dizer, a parte setentrional do conjunto, fica submetida à monarquia leonesacastelhana, Portugal constitui-se como reino independente, sob o monarca Afonso Henriques e os seus sucessores, produzindo-se, ainda por cima, uma deslocação dos centros de poder em direcção ao Sul, Coimbra e Lisboa, a partir dos quais irradiaram peculiaridades culturais geradoras de pequenas diferenças, por exemplo na língua, e, sobretudo, contribuindo para desenvolver sentimentos de dependência e de posse distintos.
Os dados anteriores permitem-nos estabelecer uma diferenciação entre a Galiza e o Norte de Portugal no que a dependências políticas se refere, assim como reconhecer que os dois territórios dependeram duma "cultura de Estado" diferente. Mas é preciso advertir que, até ao século XIX, tanto o estado português como o espanhol eram estados pre- ou proto-nacionais, fruto de concepções patrimoniais dos respectivos monarcas, e, portanto, não tenderam a criar uma uniformidade cultural nas camadas populares da população, formadas especialmente por camponeses, artesãos e marinheiros, o que facilitou a permanência de formas de cultura tradicional com grandes semelhanças nos dois lados do Minho e da raia seca das terras mais orientais.
Com posterioridade, a partir do século XIX avançado, a lenta implantação de estados nacional-liberais em Espanha e em Portugal provocou o aparecimento de políticas encaminhadas a consolidar um espaço nacional uniforme, como sucede noutras zonas da Europa. Mas deve ter-se em atenção que estes dois estados sofreram duma debilidade crónica que os impediu de consumarem, plenamente, os seus desejos de criar uma cidadania com cultura uniforme de estado.
As contingências da História, que se acabam de referir, fizeram com que o Noroeste Peninsular se caracterizasse por uma forte sociedade rural, de que as manifestações culturais são o seu espelho mais seguro.
A rica lírica galaico-portuguesa dos séculos XIII e XIV foi escrita numa língua cortesã comum, com base numa tradição popular de carácter oral, a autores galegos e portugueses mas, pouco a pouco, num longo processo que chega até aos nossos dias, os traços comuns convivirão com divergências, o que permite considerar o galego e o português como línguas muito próximas, mais diferenciáveis.
A literatura galaico-portuguesa encontra formas de erudição e lugar nas elites, mas é a Tradição Oral a máxima expressão do sentir e do agir desta região. Ela interpreta o mundo natural de onde nasce; ela expressa os sentimentos daqueles que nele labutam e nele se transcendem. E não é por acaso que nela subsistem ainda, enquanto linguagem do povo, traços comuns de língua dos dois lados da fronteira, como é o caso na Baixa Límia (Galiza) e em Castro Laboreiro (Portugal).
A deficiente escolarização favoreceu a conservação duma cultura de transmissão oral e de carácter muito local tanto no que se refere ao aproveitamento do meio natural como à organização social ou ao universo crencial-simbólico e criativo. Um brilhante grupo de arqueólogos, linguistas, literatos, historiadores e etnógrafos/folcloristas, com figuras como Teófilo Braga, Leite de Vasconcelos, Mantíns Sarmento, Coelho, Vieira Braga, J. Dias, etc. em Portugal, ou Manuel Murguía e os membros do Seminario de Estudos Galegos na Galiza dão-nos conta da cultura passada e presente das camadas populares para documentar formas culturais que estavam a ser debilitadas pela acção conjunta das respectivas culturas de estado e das inovações tecnológicas.Ainda que os princípios por eles defendidos possam ser interpretados como mostras de conservadorismo, é preciso reconhecer que graças ao seu esforço podemos avaliar manifestações singulares que devem ser conservadas, dentro do possível, e até reactivadas para dar resposta às ameaças da globalização indiscriminada própria dos nossos tempos.
Só a prevalência dos modelos de organização social e económica, dos processos rituais e de um consequente mundo simbólico, possíveis pela especificidade ecológica da região, a sua história política e económica, justificam uma consciência de pertença por parte das comunidades aqui residentes a uma comum referência cultural, por mais variadas que sejam no presente as respectivas práticas sociais.
Mas essa consciência reforça-se quando os actores sociais tomam conhecimento de comuns características linguísticas e de um mundo simbólico muito próximo, verificado nas experiências da "Ponte … nas Ondas!", de que a cultura oral é máxima expressão.
Num mundo em transformação, onde as imposições ecológicas, económicas e políticas do passado já não se fazem sentir, a prevalência desta Tradição Oral está em risco, e a riqueza simbólica de gerações de mulheres e de homens que a viveram pode desaparecer.
No entanto, o propósito da valorização e da proclamação desta Tradição Oral não assume os contornos que no passado mais recente as teses folcloristas nacionalistas procuravam: celebrar uma pureza original, um "povo" que deve ser preservado de toda a modernidade e seja conforme aos ditames de um ideal ideológico que, pretensamente defensor de uma verdade cultural e étnica, se transforma numa escravatura da identidade perdida.
Este património é excepcional porque é a consubstanciação de uma vivência extraordinária de comunidades humanas entre uma natureza difícil e circunstâncias históricas originais, e que o faz com riqueza literária e imaginária inexcedível e sentido oportuníssimo.
Trata-se de um Património onde os temas da natureza, do amor, do trabalho, do bem e do mal, da fortuna e da desgraça, da descoberta e da admiração pelo mágico e fantástico e, de uma forma particular, pelo papel original e central que nele ocupa a mulher.
Nos contos, lendas, quadras alusivas ao trabalho, ao amor, aos santos, no sarcasmo das queimas de Judas e das festas dos rapazes, na ironia das cantigas ao desafio e nas outras cantigas, de que os nossos cancioneiros populares são exemplo, está todo o mundo cultural do Noroeste Peninsular.
Este é um património que os habitantes desta região assumem como seu, definidor de uma pertença comum entre outras tantas a que cada grupo se agrega.
Declará-lo Património da Humanidade é afirmar não só a sua excepcionalidade, a sua extraordinária criação e perseverança ao longo dos séculos, como querer partilhá-lo com a comunidade humana que habita o globo terrestre.
Sendo no passado muito frequente nas práticas quotidianas dos habitantes desta região, durante o seu trabalho e as suas festas, acompanhando os ciclos agrários e as romarias, agregando-se às profissões e aos artesãos, invocando a sorte e fortuna ou prevendo a desgraça e temendo o mal, esta Tradição Oral, dadas as transformações do mundo rural, prevalece hoje em pequenos apontamentos do quotidiano e deixa-se ainda revelar em ocasiões mais festivas, momentos de excepção, ligada ao canto e às danças ou, num assombro de celebração da natureza, nos rituais dos ciclos festivos e dos ciclos naturais.No quotidiano surgem os provérbios e os aforismos, as rezas, as descrições e prescrições da medicina tradicional, como se encontra no Barroso, a classificação do trabalho e das lides profissionais.
Ao sentido do quotidiano acrescenta-se o sentido do ciclo agrário e dos acontecimentos que ele proporciona: as sementeiras, colheitas e as malhadas.
Para toda a ocasião o Nordestino tem uma cantiga, para todo o trabalho uma reflexão rimada, para toda gesta um romance e para qualquer circunstância da vida um refrão.
Economistas, historiadores, sociólogos e antropólogos costumam estabelecer um horizonte de referência para fixar o começo duma crise irreversível no velho sistema cultural da Galiza e do norte de Portugal.
Apesar dos diversos antecedentes que anunciam esta crise, é na década de sessenta, do século XX, quando se produz uma emigração massiva junto com transformações demográficas intensas, tecnificação das explorações agrárias sobreviventes e das actividades pesqueiras, vulgarização de produtos industriais, acesso generalizado à cultura letrada e aos meios de comunicação, ou novas formas de família e de divertimento. Neste contexto as formas de cultura oral desaparecem ou sobrevivem na memória dos mais velhos, ou em circunstâncias em que as estratégias adaptativas à nova situação permitem conservar velhas técnicas, habilidades e celebrações que mantêm formas tradicionais ou atingem novos significados sociais, como, por exemplo, a de serem elevadas a símbolo de identidade local, galega ou portuguesa.
Por outro lado, o factor migratório, comum a ambas as comunidades e explicável pela deficiente economia agrária, é um fenómeno que tem a sua origem a partir de meados do século XIX e persistente ainda hoje. A emigração e a colonização levou a que esta cultura oral faça parte do património de países como o Brasil, Angola, Moçambique, Cuba ou Argentina.
Uma questão que valoriza de maneira especial esta candidatura é a referida à nova situação desta área geocultural como consequência da incorporação na União Europeia. Com efeito, se a Galiza girou na órbita do Estado Espanhol, e as terras situadas entre o Minho e o Douro fizeram o mesmo em relação ao Estado Português, agora começa a desenhar-se um espaço trans-fronteiriço denominado a euro-região Galiza-Norte de Portugal.
Nesta conjuntura histórica resulta de especial interesse recuperar o velho património cultural comum, que deve deixar de ser um património com formas coincidentes para ser cada vez mais um património de formas partilhadas.
Dito doutra maneira, a valorização da cultura oral galaico-portuguesa pode ser um caminho importante para reforçar uma relação inevitável por imperativos históricos, além de facilitar a projecção desta área em âmbitos europeus e universais."

Por um Patimónio Imaterial Galaico-Português a Património Mundial

Existe uma grande falta de conhecimento acerca do Património Imaterial/Cultural Galaico-Português, pelo que transcrevo aqui alguns textos da página oficial da candidatura, para que se divulgue este Património tão próprio e comum a uma região, que se completa, apesar das fronteiras politicas impostas.
Espero conseguir completar, num curto espaço de tempo, esta informação, com algum contributo sobre a cultura musical Galaico-Portuguesa.
Dia 25 de Novembro é a data da resolução da UNESCO, a candidatura ainda vai ser apresentada em Paris.
MT

Tuesday, July 26, 2005

Quem sou eu?

Quem sou eu?
Sou formada por uma gota de morte,
Que escorre do imenso copo que embala a vida,
E um desejo ardente de conhecimento.
Sou o fruto daquilo que querem que eu seja,
Mas faço vos acreditar que sou
Tudo aquilo que quero ser.
Sou a louca racional,
E como tal,
Cientista da minha própria loucura
Sou apenas o animal que acredita poder pensar
E que vive a ilusão da realidade.

MT

Wednesday, July 13, 2005

Madrugada

Sopra o vento que vem de leste, suave na madrugada, os primeiros raios de sol começam a aparecer no horizonte, quero ficar aqui para sempre neste lugar, quero congelar este momento para sempre. A lua vai-se apagando, lentamente, num céu que vai teimando em esconder as estrelas, uma por uma.
Sei que é um momento, que nunca mais se repetirá, pelo menos nos mesmos moldes, outros “nascer do sol” vão existir, mas mesmo que volte ao mesmo lugar nunca mais será igual, porque eu já não serei a mesma.
Deito-me no chão a tentar encontrar forma nas nuvens. Escondo-me do mundo, fico mergulhada no silêncio apenas cortado pelo chilrear dos pássaros.
Ao ser chamada à realidade parece-me que fui acordada de um sonho que se vai desfazendo a pouco e pouco. Acabou, tenho que me ir embora, enquanto nos afastamos no carro, o silêncio ainda me rodeia, os pensamentos flúem numa rapidez atroz.
Provavelmente deveria ir para casa dormir, mas estou tão absorta naquele mundo mágico, que optei por passear na cidade que começa a acordar.
É engraçada a maneira como as cidades vão mudando de ambiente ao longo do dia.
Percorro a calçada, passo por debaixo das arcadas e começo a sentir os cheiros da manhã, começo a ouvir o ruído do trânsito que até à pouco era inexistente… vou-me sentindo viva, mas, ao mesmo tempo, espectadora de um mundo que não é o meu, a cidade que conheço desperta mais tarde, é mais agitada, o prazer que se retira ao inspirar o ar da manhã é desconhecido na “minha” cidade.
Consigo reparar em pormenores que nunca reparei, das janelas, os batedores das portas, que são quase todos diferentes, o desenho dos varandins, ou até mesmo os altares escondidos nas paredes, definitivamente a cidade é mais rica a esta hora.
Entro na Sé, e deixo-me ficar ali, sozinha envolta no silêncio, em algumas ocasiões deixo até de pensar, fico simplesmente quieta a desfrutar. Passam-se horas, o órgão da catedral começa a soar aumentando o mistério de todo a ambiente, tenho a sensação de estar refém de um tempo que não é o meu, com toda a estranheza que daí advém. Deixo-me ficar.
De volta, passo pela Universidade, e fico sentada nos claustros a ouvir a água que corre na fonte, pensando nos bons tempos que ali passei, vou dizendo “bom dia” às poucas pessoas que por ali vão entrando, vou para casa de alma renovada e com força e vontade para aguentar mais uns tempos nesta cidade estranha, que não é a minha, mas que me provoca arrepios e sentimentos únicos, sei que por mais voltas que dê, a minha vida, por mais longe que me leve, Évora vai ser sempre Évora, com a força e esperança que representa para mim, afinal é o meu ponto de partida e o meu porto seguro.

MT