Wednesday, July 13, 2005

Madrugada

Sopra o vento que vem de leste, suave na madrugada, os primeiros raios de sol começam a aparecer no horizonte, quero ficar aqui para sempre neste lugar, quero congelar este momento para sempre. A lua vai-se apagando, lentamente, num céu que vai teimando em esconder as estrelas, uma por uma.
Sei que é um momento, que nunca mais se repetirá, pelo menos nos mesmos moldes, outros “nascer do sol” vão existir, mas mesmo que volte ao mesmo lugar nunca mais será igual, porque eu já não serei a mesma.
Deito-me no chão a tentar encontrar forma nas nuvens. Escondo-me do mundo, fico mergulhada no silêncio apenas cortado pelo chilrear dos pássaros.
Ao ser chamada à realidade parece-me que fui acordada de um sonho que se vai desfazendo a pouco e pouco. Acabou, tenho que me ir embora, enquanto nos afastamos no carro, o silêncio ainda me rodeia, os pensamentos flúem numa rapidez atroz.
Provavelmente deveria ir para casa dormir, mas estou tão absorta naquele mundo mágico, que optei por passear na cidade que começa a acordar.
É engraçada a maneira como as cidades vão mudando de ambiente ao longo do dia.
Percorro a calçada, passo por debaixo das arcadas e começo a sentir os cheiros da manhã, começo a ouvir o ruído do trânsito que até à pouco era inexistente… vou-me sentindo viva, mas, ao mesmo tempo, espectadora de um mundo que não é o meu, a cidade que conheço desperta mais tarde, é mais agitada, o prazer que se retira ao inspirar o ar da manhã é desconhecido na “minha” cidade.
Consigo reparar em pormenores que nunca reparei, das janelas, os batedores das portas, que são quase todos diferentes, o desenho dos varandins, ou até mesmo os altares escondidos nas paredes, definitivamente a cidade é mais rica a esta hora.
Entro na Sé, e deixo-me ficar ali, sozinha envolta no silêncio, em algumas ocasiões deixo até de pensar, fico simplesmente quieta a desfrutar. Passam-se horas, o órgão da catedral começa a soar aumentando o mistério de todo a ambiente, tenho a sensação de estar refém de um tempo que não é o meu, com toda a estranheza que daí advém. Deixo-me ficar.
De volta, passo pela Universidade, e fico sentada nos claustros a ouvir a água que corre na fonte, pensando nos bons tempos que ali passei, vou dizendo “bom dia” às poucas pessoas que por ali vão entrando, vou para casa de alma renovada e com força e vontade para aguentar mais uns tempos nesta cidade estranha, que não é a minha, mas que me provoca arrepios e sentimentos únicos, sei que por mais voltas que dê, a minha vida, por mais longe que me leve, Évora vai ser sempre Évora, com a força e esperança que representa para mim, afinal é o meu ponto de partida e o meu porto seguro.

MT

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