Tuesday, July 26, 2005

Quem sou eu?

Quem sou eu?
Sou formada por uma gota de morte,
Que escorre do imenso copo que embala a vida,
E um desejo ardente de conhecimento.
Sou o fruto daquilo que querem que eu seja,
Mas faço vos acreditar que sou
Tudo aquilo que quero ser.
Sou a louca racional,
E como tal,
Cientista da minha própria loucura
Sou apenas o animal que acredita poder pensar
E que vive a ilusão da realidade.

MT

Wednesday, July 13, 2005

Madrugada

Sopra o vento que vem de leste, suave na madrugada, os primeiros raios de sol começam a aparecer no horizonte, quero ficar aqui para sempre neste lugar, quero congelar este momento para sempre. A lua vai-se apagando, lentamente, num céu que vai teimando em esconder as estrelas, uma por uma.
Sei que é um momento, que nunca mais se repetirá, pelo menos nos mesmos moldes, outros “nascer do sol” vão existir, mas mesmo que volte ao mesmo lugar nunca mais será igual, porque eu já não serei a mesma.
Deito-me no chão a tentar encontrar forma nas nuvens. Escondo-me do mundo, fico mergulhada no silêncio apenas cortado pelo chilrear dos pássaros.
Ao ser chamada à realidade parece-me que fui acordada de um sonho que se vai desfazendo a pouco e pouco. Acabou, tenho que me ir embora, enquanto nos afastamos no carro, o silêncio ainda me rodeia, os pensamentos flúem numa rapidez atroz.
Provavelmente deveria ir para casa dormir, mas estou tão absorta naquele mundo mágico, que optei por passear na cidade que começa a acordar.
É engraçada a maneira como as cidades vão mudando de ambiente ao longo do dia.
Percorro a calçada, passo por debaixo das arcadas e começo a sentir os cheiros da manhã, começo a ouvir o ruído do trânsito que até à pouco era inexistente… vou-me sentindo viva, mas, ao mesmo tempo, espectadora de um mundo que não é o meu, a cidade que conheço desperta mais tarde, é mais agitada, o prazer que se retira ao inspirar o ar da manhã é desconhecido na “minha” cidade.
Consigo reparar em pormenores que nunca reparei, das janelas, os batedores das portas, que são quase todos diferentes, o desenho dos varandins, ou até mesmo os altares escondidos nas paredes, definitivamente a cidade é mais rica a esta hora.
Entro na Sé, e deixo-me ficar ali, sozinha envolta no silêncio, em algumas ocasiões deixo até de pensar, fico simplesmente quieta a desfrutar. Passam-se horas, o órgão da catedral começa a soar aumentando o mistério de todo a ambiente, tenho a sensação de estar refém de um tempo que não é o meu, com toda a estranheza que daí advém. Deixo-me ficar.
De volta, passo pela Universidade, e fico sentada nos claustros a ouvir a água que corre na fonte, pensando nos bons tempos que ali passei, vou dizendo “bom dia” às poucas pessoas que por ali vão entrando, vou para casa de alma renovada e com força e vontade para aguentar mais uns tempos nesta cidade estranha, que não é a minha, mas que me provoca arrepios e sentimentos únicos, sei que por mais voltas que dê, a minha vida, por mais longe que me leve, Évora vai ser sempre Évora, com a força e esperança que representa para mim, afinal é o meu ponto de partida e o meu porto seguro.

MT

Tuesday, July 12, 2005

Silêncio

Os pensamentos viajavam à velocidade da Luz. Naquele instante não sabia que fazer, a discussão tinha sido feia, ele saiu e bateu com a porta, a incógnita era se alguma vez o voltaria a ver.
A capacidade humana de humilhar o próximo é algo que me ultrapassa, a defesa da nossa verdade e o sentimento de posse são verdadeiras facas numa relação.
Não sei o que nos aconteceu, como nos fomos aniquilando enquanto seres, não faço ideia.
Racionalmente consigo ver onde errei, mas não posso admiti-lo verbalmente, nunca consegui, sempre fui péssima a falar dos meus sentimentos, incapacidade ou cobardia, chamem-lhe o que quiserem, a realidade é: não consigo! É algo que me ultrapassa, tal como uma onda na zona de rebentação, ou saltas ou ficas enrolada, optei sempre por saltar, penso sempre que o que perco é pouco, comparado com tal humilhação, aquela sensação de me sentir pequena perante outro ser humano. Em vez disso, tento sempre passar a ideia de alguém que não chora, que é forte, que suporta tudo, o que no fundo não deixa de ser verdade, normalmente quanto mais forte é o impacto, mais forte é a reacção, tenho alturas de quebra como toda a gente, nessas alturas apetece-me voltar a ser menina pequena, que se senta ao colo, para que lhe dêem mimos…mas já não sou.
E naquele dia, sentia-me verdadeiramente pequena, a bem dizer, nem sei como tudo começou, acho que na realidade já tinha começado uns meses antes, mas com o peso da rotina, nem nos demos conta.
Foi o terminar de algo que nunca devia ter sido iniciado, as diferenças eram mais que muitas, ele queria ser um homem responsável, com um emprego das nove às cinco, e eu queria ser a menina que não precisa nunca de crescer, queria viver a minha juventude, queria percorrer o mundo, conhecer outras experiências…tenho medo do estável. A minha vida tem de ser uma eterna corda bamba, para sentir que estou viva, que me é possível viver, e ele como já tinha passado por tudo isto, não compreendia.
Na verdade, a minha ânsia por novos conhecimentos é tal, que se pudesse recomeçar, a minha vida, faria tudo diferente, não porque me arrependa de algo, mas porque uma vida é pouco para conhecer tudo o que gostaria. Tenho noção que o tempo já começou a esgotar--se e que existem coisas que nunca irei conseguir fazer.
Penso que se calhar até foi um alívio vê-lo sair por aquela porta, voltei a reconquistar a meu mundo, o meu espaço, as minhas coisas, mas principalmente o meu silêncio, um silêncio que para mim não tem preço, o meu pequeno tesouro.
Ele um dia disse-me, “se um dia tiveres de escolher entre mim e o mundo lembra-te, se escolheres o mundo ficas sem mim, se me escolheres a mim eu te darei o mundo”
A verdade é que ninguém me pode dar o mundo, o mundo para ser meu tenho que conquistá-lo, e é o que eu pretendo fazer.

MT

Friday, July 01, 2005

Ausência

Silêncio. Hoje em dia já só escuto silêncio. Aquele silêncio soturno dos prados vazios. Corro e grito à procura da tua voz. Não está. Nunca está. Choro. Solidão. Encontrei apenas solidão.
A solidão que enche o coração vazio, cheio de dias que tardam em chegar. Revolta. Aquela revolta que nos unia, e que já não preenche os finais de tarde. Saudade. Saudade dos tempos em que fui compreendida, saudade de compartilhar emoções, saudade do riso, saudade de ser eu, saudade do tempo em que vivi.
Partiste. Ao partires levaste-me contigo. Morri. Hoje em dia apenas encaro o mundo como uma mera espectadora, um zombie. Não sinto nada.
Quando um dia te puder ir visitar, quando um dia conseguir sair desta jaula chamada vida, vou falar. Falar o acumulado que trago dentro de mim. Transparente. Hoje em dia sou transparente aos olhos do mundo, ninguém me vê ou ouve. Fujo. Fujo sempre que posso. Fujo na esperança de te conseguir encontrar algures num lugar longínquo.
Falo de ti. Sabias? Falo muito de ti. Maneira única de te manter vivo. Fazes-me companhia assim, a minha única companhia. Canto. Canto muito, desabafo, sem que ninguém perceba o que estou a dizer. Dói. Dói muito a espera de poder cantar.
Encontrei há dias um amigo teu, olhou, sorriu, baixou os olhos e seguiu em frente, ao fim de tantos anos ainda não conseguimos falar do que te aconteceu. A tua mãe chora quando me vê, confesso que também não consigo conter as lágrimas, cada uma de nós olha para a outra com a esperança que tenha o poder de te trazer de volta. Não temos. Ninguém tem.
Às vezes pergunto-me se me vês. Se sabes o que me vai acontecendo, se te ris comigo, se sofres comigo. Ter uma resposta a estas perguntas tornaria tudo mais fácil.
Gostava de saber o que fazes, se continuas a assistir o pôr-do-sol, religiosamente todas as tardes, se ouves música…penso sempre em ti.
Arrependo-me. Arrependo-me por vezes de tudo aquilo que não te cheguei a dizer, porque não houve tempo. Mas penso que o sabes.
Sim, lembro-me de tudo o que te prometi, mas cada vez é mais difícil cumprir essas promessas sem a tua ajuda.
O que dói mais no fundo, é o não te poder dizer: Até logo!
MT