Escrevo a ouvir os sons bem timbrados da guitarra (viola para os mais puritanos) que me invade o ouvido a estas horas da noite. Sons que descansam bem cá dentro e que invadem, sem pedir autorização, o coração. Demoram-se um bocadinho à entrada do aparelho auditivo, mas penso lhes que entrem, sem precisarem de fazer qualquer tipo de cerimónia.
Um qualquer músico, que até à data desconheço, penso que os senhores da 2 se lembraram de nós, aqueles que começam a ver um programa após o seu início, para nos satisfazerem a curiosidade.
As adaptações que faz a fados conhecidos, como é o caso de “No Teu Poema” de Carlos do Carmo, que é senão o meu fado preferido definitivamente um deles, é no mínimo de cortar a respiração. E no meu caso estas notas cortam-na muito facilmente. É como que manteiga para os ouvidos, descansam-se no meu coração. Relembram-me a letra sem que seja preciso a mente fazer muito esforço.
“ No Teu Poema”
Um qualquer músico, que até à data desconheço, penso que os senhores da 2 se lembraram de nós, aqueles que começam a ver um programa após o seu início, para nos satisfazerem a curiosidade.
As adaptações que faz a fados conhecidos, como é o caso de “No Teu Poema” de Carlos do Carmo, que é senão o meu fado preferido definitivamente um deles, é no mínimo de cortar a respiração. E no meu caso estas notas cortam-na muito facilmente. É como que manteiga para os ouvidos, descansam-se no meu coração. Relembram-me a letra sem que seja preciso a mente fazer muito esforço.
“ No Teu Poema”
No teu poema
existe um verso em branco e sem medida,
um corpo que respira, um céu aberto,
janela debruçada para a vida.
No teu poema
existe a dor calada lá no fundo,
o passo da coragem em casa escura
e, aberta, uma varanda para o mundo.
Existe a noite,
o riso e a voz refeita à luz do dia,
a festa da Senhora da Agonia
e o cansaçodo corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio,
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
existe o grito e o eco da metralha,
a dor que sei de cor mas não recito
e os sonhos inquietos de quem falha.
No teu poema
existe um cantochão alentejano,
a rua e o pregão de uma varina
e um barco assoprado a todo o pano.
Existe um rio
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
existe a esperança acesa atrás do muro,
existe tudo o mais que ainda escapa
e um verso em branco à espera de futuro.
E para não estragar, assim vos deixo.
Com a certeza de que vou dormir melhor, que vou meter “o coração a descansar”, que esse bem precisa, e com um sorriso nos lábios.
Durmam bem