Publicado em 16 de Junho de 2009
É só 0,90€ o copo e bebe-se desde 1936 numa tasca apertada na Rua Nova do Almada
"Um turista cor-de-rosa sobe ofegante a Rua Nova do Almada, no Chiado, sem sequer reparar no letreiro amarelo à sua frente onde se lê "Limonadas". Provavelmente era mesmo disso que precisava para afogar todos os suores de uma escalada pelas colinas de Lisboa no calor insuportável de Junho, bem denunciador dos estragos da camada de ozono. De língua de fora, o turista escaldado olha com desprezo para dentro da tasca que serve a melhor limonada do país e continua o seu caminho, sedento de uma coca-cola com gelo e limão.
A julgar pelo aspecto do sítio onde o seu olhar por momentos poisou, nunca adivinharia que lá se espremiam limões abençoados pelo sol português. Três homens com um ar acabado bebem cerveja ao balcão e só eles enchem os pouco mais de dois metros quadrados da casa, que também só tem duas mesas, porque mais não cabia. "Antigamente as pessoas faziam fila na rua só para vir beber limonada, agora a maior parte nem sabe o que isso é", protesta Artur Costa, um dos donos da Merendinha, a casa de limonadas mesmo ao pé do Tribunal da Boa Hora.
Quando começou a espremer limões atrás do balcão tinha 22 anos e as pessoas ainda não bebiam refrigerantes. "Vim para aqui jovem e já estou velho", conta o empregado, agora com 55 anos. A Merendinha ainda tem mais anos (73) e mata a sede de quem lá passa desde 1936. E de facto, tudo ali parece estar igual a esse ano. A decoração é a mesma de sempre (ou melhor, a falta dela) e as bebidas servidas são velhos clássicos: além da limonada a 90 cêntimos, há capilé, groselha e sumo de laranja natural. A máquina de espremer limões, tecnologia de ponta dos anos 80, nunca se avariou e já pertencia ao patrão fundador da casa.
Agora Artur Costa mantém o negócio "com grande sacrifício" e com a ajuda do outro sócio, José de Almeida, de 58 anos, "mas as coisas não estão fáceis". Com a mudança do Tribunal da Boa Hora para o Parque das Nações, já em Julho, a Merendinha vai perder a maior parte dos clientes e dificilmente se aguentará. "Já não há escritórios aqui ao pé e esta mudança vai ser a machadada final." Num dia de calor, Artur chegava a preparar 250 limonadas."Até me lembro de ir a correr ao Mercado da Ribeira porque os limões se acabavam", recorda. Hoje em dia quando serve 100 é quase milagre.
"O segredo está no limão", diz João Henriques, um habitué do sítio onde diz que se fazem "as melhores limonadas do mundo". Mesmo assim mata a sede com cervejas atrás de cervejas. Artur concorda, o segredo é dos limões que vêm de uma quinta perto de Torres Vedras. E também da água refrigerada tirada da torneira à pressão.
Mais acima, no Largo de Camões, vários turistas refrescam-se com limonadas num dos novos quiosques de Catarina Portas. "Mas esta limonada é a melhor, as outras são imitação", diz um cliente.
Receita: Espremem-se dois limões do mercado, junta-se uma colher de sopa de açúcar, água da torneira bem gelada et voilà"
in "I"
A julgar pelo aspecto do sítio onde o seu olhar por momentos poisou, nunca adivinharia que lá se espremiam limões abençoados pelo sol português. Três homens com um ar acabado bebem cerveja ao balcão e só eles enchem os pouco mais de dois metros quadrados da casa, que também só tem duas mesas, porque mais não cabia. "Antigamente as pessoas faziam fila na rua só para vir beber limonada, agora a maior parte nem sabe o que isso é", protesta Artur Costa, um dos donos da Merendinha, a casa de limonadas mesmo ao pé do Tribunal da Boa Hora.
Quando começou a espremer limões atrás do balcão tinha 22 anos e as pessoas ainda não bebiam refrigerantes. "Vim para aqui jovem e já estou velho", conta o empregado, agora com 55 anos. A Merendinha ainda tem mais anos (73) e mata a sede de quem lá passa desde 1936. E de facto, tudo ali parece estar igual a esse ano. A decoração é a mesma de sempre (ou melhor, a falta dela) e as bebidas servidas são velhos clássicos: além da limonada a 90 cêntimos, há capilé, groselha e sumo de laranja natural. A máquina de espremer limões, tecnologia de ponta dos anos 80, nunca se avariou e já pertencia ao patrão fundador da casa.
Agora Artur Costa mantém o negócio "com grande sacrifício" e com a ajuda do outro sócio, José de Almeida, de 58 anos, "mas as coisas não estão fáceis". Com a mudança do Tribunal da Boa Hora para o Parque das Nações, já em Julho, a Merendinha vai perder a maior parte dos clientes e dificilmente se aguentará. "Já não há escritórios aqui ao pé e esta mudança vai ser a machadada final." Num dia de calor, Artur chegava a preparar 250 limonadas."Até me lembro de ir a correr ao Mercado da Ribeira porque os limões se acabavam", recorda. Hoje em dia quando serve 100 é quase milagre.
"O segredo está no limão", diz João Henriques, um habitué do sítio onde diz que se fazem "as melhores limonadas do mundo". Mesmo assim mata a sede com cervejas atrás de cervejas. Artur concorda, o segredo é dos limões que vêm de uma quinta perto de Torres Vedras. E também da água refrigerada tirada da torneira à pressão.
Mais acima, no Largo de Camões, vários turistas refrescam-se com limonadas num dos novos quiosques de Catarina Portas. "Mas esta limonada é a melhor, as outras são imitação", diz um cliente.
Receita: Espremem-se dois limões do mercado, junta-se uma colher de sopa de açúcar, água da torneira bem gelada et voilà"
in "I"
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